A escassez hídrica
vivida no ano em Santa Catarina impactará drasticamente na safra de
grãos 2020/2021 e na produção de leite no Estado. A avaliação é da Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC) que — por orientação
do presidente José Zeferino Pedrozo — fez um levantamento das
perdas ocasionadas pela seca em todas as regiões catarinenses, após o período
de chuvas no início de dezembro.
De acordo com o
vice-presidente da FAESC, Enori Barbieri, que percorreu as regiões
mais afetadas, os mais de 100 milímetros de chuva ocorridos nas duas
primeiras semanas do mês foram suficientes para restabelecer o abastecimento de
água nas propriedades, galpões e aviários, além de possibilitar o replantio de
parte do milho/silagem, porém não evitou prejuízos em todas as culturas. A
estimativa é que a safra de grãos seja 20% menor do volume esperado. Das 6,6
milhões de toneladas previstas para o período, o Estado deve colher apenas 5,3
milhões.
O milho
comercial foi a cultura mais prejudicada. As perdas alcançaram 35% e a
produção catarinense deve sofrer queda de 1 milhão de toneladas. “Se tivermos
mais chuvas em dezembro, janeiro e fevereiro, poderemos colher 1,8 milhão de
toneladas das 2,8 previstas para a safra. Porém, se a chuva não chegar, a
quebra será maior”, projeta Barbieri ao destacar que a maior preocupação é com
o abastecimento interno. O Estado tem 330 mil hectares de área plantada e neste
ano já importou 4,5 milhões de toneladas de milho para abastecer as
agroindústrias.
“Certamente teremos
que importar mais de 5 milhões de toneladas em 2021, especialmente do Paraguai,
Argentina, Estados Unidos, além do milho safrinha vindo do Paraná e do
Centro-Oeste. É uma situação que preocupa todo o setor”, alerta.
As perdas
levantadas na produção do milho para silagem são maiores e
variam entre 40% e até 100% nas regiões mais atingidas pela estiagem – Extremo
Oeste, Oeste e Meio Oeste. A área plantada no Estado é de 220 mil hectares e a
colheita alcançou apenas 25% da silagem prevista. “Se a chuva continuar, ainda
é possível replantar boa parte do milho e colher até 40 toneladas por hectare,
o que nos garantiria uma safra melhor”, observa o vice-presidente da
FAESC.
A produção de soja foi
a menos impactada e registou queda de 10%. O plantio foi feito em outubro e
novembro e finalizado em dezembro. Apesar da germinação ruim
ocasionada pela seca, as chuvas de dezembro garantiram a recomposição do
plantio. Santa Catarina plantou 670 mil hectares e deve colher 2,5 milhões de
toneladas.
LEITE COM MAIOR
QUEBRA
A falta de pastagem
e o alto custo da ração à base de milho e soja prejudicaram em cheio os
produtores de leite no Estado. A atividade registrou a maior
queda – 40% – e tirou a quarta posição de Santa Catarina do ranking nacional. A
produção que era de 8 milhões de litros por dia foi reduzida para 5 milhões de
litros por dia.
“Este foi o setor
mais afetado economicamente, porque vinha de fortes investimentos e
modernização da atividade no Estado. A falta de silagem, a quebra da produção e
o alto custo dos insumos ocasionaram a desistência de inúmeros produtores.
Muitos também eliminaram de seus planteis as vacas mais velhas e menos
produtivas. Com isso, perdemos a quarta posição nacional para o Estado de
Goiás, a mesma que tínhamos conquistado no ano passado. A situação também
complica a luta catarinense para exportação do leite”, analisa Barbieri.
O dirigente destaca
que o arroz foi a única cultura que não teve perdas consideráveis no Estado e
deve alcançar 1,2 milhão de toneladas, a segunda maior produção nacional.
PREVISÃO
Apesar dos
prejuízos, a mudança na previsão, que aponta mais chuva para os próximos dois meses,
traz alento ao setor. O efeito La Niña, severo no sul do Brasil, até agora
não se confirmou e a esperança é que volte a chover com intensidade no Estado.
“Os produtores
atingidos estão acionando o seguro rural e o Programa de Garantia da Atividade
Agropecuária (Proagro) para cobrir os prejuízos. Os mananciais nas propriedades
foram recuperados e praticamente cessou a necessidade de caminhões-pipa no
momento. A contribuição do Governo Estadual também foi importante, com
liberação de até R$ 46 milhões em crédito para construção de cisternas, açudes
e poços artesianos. Os prejuízos foram irrecuperáveis na produção de milho e de
leite, mas teremos uma boa safra de soja e de arroz”, avalia Barbieri.
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