Audiência pública reuniu autoridades, representantes da educação, da segurança, da saúde mental, pais e comunidade em geral | Fotos: Tiarajú Goldschmidt/Câmara de Vereadores
As causas e as
possíveis soluções para o problema de segurança nas escolas e creches de São
Miguel do Oeste foram tema de uma audiência pública promovida pela Câmara
Municipal de Vereadores. O encontro foi proposto pelo vereador Valnir
Scharnoski (Nini – PL), que coordenou a audiência, e reuniu representantes de
escolas, autoridades da área da segurança pública, profissionais da saúde
mental, integrantes da sociedade civil, pais e professores. O evento foi
realizado na noite de quinta-feira (20), no plenário da Câmara.
Nini Scharnoski, de
início, explicou os objetivos da audiência, ressaltando que esta foi motivada
pelo momento em que vivemos, com ameaças a escolas e creches, destacando o caso
ocorrido em Blumenau no início do mês. Na sequência, ele apresentou o Projeto
de Lei nº 31/2023, de sua autoria, que cria o Conselho de Segurança na Educação
de São Miguel do Oeste (Consesmo).
O Conselho tem o
objetivo de sugerir, informar e orientar sobre medidas necessárias que visem
assegurar a segurança dos educandários da rede municipal de ensino. O texto
prevê que o conselho prestará assessoria à Secretaria Municipal de Educação. O
projeto trata das competências do conselho, sua composição, sobre a organização
e o mandato de seus membros.
Nini entregou
cópias do projeto e abriu espaço para que os participantes sugerissem
alterações à proposta. Ao longo da audiência pública, o vereador recebeu
sugestões principalmente na composição do Consesmo.
AÇÕES DO PODER
EXECUTIVO
Outro destaque da
audiência foi a apresentação, pelo prefeito Wilson Trevisan, de um balanço de
ações propostas na área da segurança, algumas em andamento e outras a serem
desenvolvidas:
Instrução: ciclo de
palestras para diretores, professores, e finalmente aos pais, com as
orientações necessárias de prevenção, para que todos tenham uma informação
mínima, pelo menos.
Inteligência:
observação, criar um núcleo de segurança nas escolas, com pais e professores,
juntamente com o coordenador de segurança (cargo a ser criado). Ficar atento à
criança que não brinca, aquela que não faz parte de nenhum grupo. Trevisan
informou que solicitou um diagnóstico das escolas, que já foi realizado em 16
unidades, com indicação de mecanismos de segurança necessários em cada unidade.
Dispositivos de
segurança: instalação de vídeo-porteiro nas escolas e creches, e monitoramento
de toda a parte externa da escola; instalação de botões de pânico em todas as
escolas e creches, interligado com a Polícia Militar. Com isso, informou, é
possível estar no local em cerca de 8 a 10 minutos; instalação de leitor facial
nas escolas da rede municipal.
Videomonitoramento:
ampliação da rede de videomonitoramento, instalação de câmeras em frente a
todas as escolas, interligadas à Central de Monitoramento da Polícia Militar.
Infraestrutura:
construção de muros laterais e aos fundos da escola, de 3,20 m de altura, com
concertinas (espirais de arame) onde for necessário, e grades na parte frontal.
Vigilância
presencial: Trevisan ressaltou que fez convocação extraordinária da Câmara para
votação do projeto que prevê a contratação de coordenadores de segurança nas
escolas, preferencialmente profissionais oriundos das forças de segurança ou da
educação; e criação de núcleos de segurança em cada escola.
Ressaltou que a
contratação é emergencial, para até 2 anos, mas que pode ser para seis meses.
Disse que entende que futuramente, depois de estar estruturado, pode não serem
mais necessários esses profissionais. Disse que o cargo comissionado tem
vantagens pois pode nomear logo profissionais oriundos das forças de segurança
e, não tendo profissionais suficientes, pessoas da educação. E, se não der
certo, pode exonerar. Por fim, o prefeito pediu empenho dos vereadores para
votar o projeto.
RESPOSTA A
ATAQUES
O policial da
reserva Marcelo de Wallau, que foi oficial da PM e hoje atua em consultoria
privada, apresentou um histórico sobre os atentados em escolas, especialmente
nos Estados Unidos, e os protocolos de segurança adotados. Ele trouxe exemplos
de como barreiras físicas, como muros altos ou portas giratórias, nem sempre
são a melhor solução para as escolas.
“A segurança tem
que ter uma visão sistêmica do que acontece. Neste momento, não é momento de
pressa, é de velocidade. Se investirmos em portas giratórias de bancos nas
escolas, vamos criar outro problema. Precisa de planejamento para isso. Algumas
medidas têm sim que ser tomadas. Mas se analisarmos a questão apenas de forma
pontual, olhar só para a porta, para o muro, para o sistema de
videomonitoramento, vamos ter problemas lá na frente. Temos que integrar todos
esses sistemas”, defendeu.
SAÚDE MENTAL
O psiquiatra João
Eduardo Schacker afirmou que não se sabe qual é o perfil do agressor de ataques
a escolas; que já atendeu um adolescente que tinha intenção de fazer massacre,
e conseguiu evitar; e que já atendeu até professora que tinha essa intenção.
Ele alertou que hoje os pais não sabem o que os filhos estão fazendo na
internet. Que podem ser induzidos a cometer o ato por outros perfis.
Lizandra Antunes de
Oliveira, coordenadora do curso de psicologia da Unoesc, disse que há muros
internos das pessoas a serem transpostos, e que é necessário fazer avaliações
psicológicas. Disse que se falou sobre as pessoas de fora das escolas, mas é
preciso ver como as de dentro da escola estão sendo tratadas. Por fim, leu nota
do Conselho Regional de Psicologia alertando sobre publicação em rede social
que atribuía ao fenótipo da pessoa influenciar em seu comportamento, o que é
falso.
A psicóloga Josiane
Romancini, representante do Conselho Regional de Psicologia, falou sobre um
projeto de prevenção à violência nas escolas, com ações coordenadas: trabalhar
com crianças de 6 a 11 anos e adolescentes de 12 a 17, capacitação de
professores e familiares. Disse que esse projeto foi criado em 2019, que o
apresentou a gestores e autoridades, mas na época não houve interesse em
adotá-lo. A psicóloga ofereceu-se para apresentá-lo de forma detalhada. Disse
que a proposta surgiu após escutas psicoterapêuticas em programa de violência
contra as mulheres. “Ao escutarmos esses homens (os agressores), percebemos que
muitos desses homens vieram de lares violentos. A violência doméstica conta com
crianças e adolescentes que são violentados dentro de suas casas, um fenômeno
social e histórico”, apontou.
ÓRGÃOS DE
SEGURANÇA
O delegado
Cleverson Müller, titular da Delegacia de Proteção à Criança, à Mulher e ao
Idoso (DPCami), disse que lamenta informar que não há uma solução única e uma
solução mágica, mas que é necessário um compromisso compartilhado das
responsabilidades. Que muitas das ações propostas são de segurança física nas
escolas, mas precisa-se realizar estudos para ter compromissos a curto, médio e
longo prazo.
Ele apresentou
dados sobre ataques a escolas nos Estados Unidos, destacando que 73% dos
ataques foram minuciosamente planejados e documentados. “Vamos olhar a agenda
dos alunos, dos filhos”, alertou, citando que parte dos atentados foram
descobertos por relatos dos colegas. Citou que 83% dos ataques duraram menos de
5 minutos; desses, 43% duraram menos de 1 minuto; e em Blumenau foram 20
segundos.
Müller disse que é
necessário sair um pouco do perfil do aluno, e buscar avaliação de ameaças, se
preocupar com comportamento. “A melhor forma de prevenção aos ataques é a
avaliação de ameaças”, destacou. Ele falou sobre as ações da Polícia Civil
desde 5 de abril, data do ataque a Blumenau. Disse que o órgão não
desconsiderou qualquer informação de ameaça, e empenhou seus profissionais.
Informou ainda que a Polícia Civil possui parceria com plataformas de redes
sociais. “Mas não tenho dúvidas de que o controle dos pais sobre as amizades
dos filhos, sobre monitoramento dos filhos, é mais efetivo. Pais, não
terceirizem essa responsabilidade”, completou.
O tenente-coronel
Alciones Pulga, comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar de Fronteira,
ressaltou que a PM tem a rede de segurança escolar, em que os policiais fazem o
patrulhamento de escolas e creches. Ressaltou que no dia da audiência todo o
expediente estava direcionado para a prevenção nas escolas. “Temos uma equipe
que está passando em todos os colégios e dando instrução para os professores e
demais profissionais, para que tenham um mínimo de conhecimento para o caso de
uma situação assim ocorrer. Primeiro fugir; não podendo, se esconder. E por
última alternativa, lutar”, instruiu.
Ele informou ainda
que a PM está fazendo vistorias consultivas em creches e escolas, para que
façam melhorias nas suas condições de segurança. Ainda falou sobre o botão do
pânico, em que a pessoa aciona a PM pelo aplicativo de celular. Por fim,
defendeu a presença de um profissional de segurança junto à escola. “Não vemos
outra forma, outro mecanismo, do que não ter alguém dentro do ambiente escolar
que possa dar resposta a esse agressor”, afirmou.
O promotor de
Justiça Maycon Hammes, titular da 1ª Promotoria, falou do papel do Ministério
Público, participando de comissões estaduais e nacionais. “No caso de Saudades
e Blumenau, o MP oferece a denúncia contra o acusado de cometer essa covardia”,
afirmou. Ele ressaltou que o órgão cobra acessibilidade das escolas, que as
escolas municipais e particulares têm se adequado, mas que há problemas com as
escolas estaduais, que o Governo do Estado não tem atendido.
Disse que o
município está livre para legislar sobre segurança nas escolas, que não há
normas estaduais e federais. Ressaltou que o município não pode impor
obrigações aos servidores estaduais (de escolas), dizendo que devem agir de tal
forma. Mas o que o município pode fazer é colocar requisitos na estrutura
física dos educandários, para adequar na hora de renovar o alvará. Também não
pode colocar recursos públicos municipais dentro de escolas privadas e escolas
estaduais.
SEQUÊNCIA DO DEBATE
A audiência ainda
teve debates em torno da contratação de profissionais armados em escolas.
Marcelo de Wallau, que foi instrutor de tiro da polícia, explicou que arma de
fogo só é válida quando a pessoa está bem-preparada, e que o uso da arma é
diferente quando se está em uma situação de estresse. Também foram debatidos os
papéis dos pais e dos professores; e investimentos em saúde mental, em esporte
e cultura.
Na audiência também
foi falado sobre o Projeto de Lei Complementar 9/2023, de autoria do Poder
Executivo, que cria o Departamento de Segurança Escolar e os cargos de Diretor
de Segurança Escolar e Coordenador de Segurança Escolar. O vice-presidente da
Câmara, Vanirto Conrad, falou sobre a recomendação recebida do Ministério
Público acerca do projeto. A recomendação, assinada pela promotora Marcela de
Jesus Boldori Fernandes, alerta que os cargos criados, na prática, vão
desempenhar a função de vigilante nas escolas, “função que não desempenha poder
decisório e hierárquico em relação a outros servidores e que também não
representa função de assessoramento, contrariando a Constituição Federal”. Ela
recomenda que a Câmara promova a análise do projeto sob a ótica do artigo 37,
inciso IV da Constituição Federal, e com observância do Princípio da Legalidade.
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