Foto: Giovana Dalcin / Arquivo Pessoal
No interior de
Estrela Velha, pequeno município da Região Central do RS, com 3.655 habitantes,
segundo dados do IBGE, parte dos alunos da rede pública não consegue assistir
às aulas remotas em casa. Com internet precária, especialmente na área rural, o
primeiro desafio é encontrar a velocidade mínima para realizar o download das
tarefas enviadas pelos professores por meio da ferramenta Google Classroom.
A criatividade de
um casal, preocupado com a educação do filho, reduziu a distância entre o aluno
e os deveres. Com sinal mais potente na lavoura de soja, os agricultores
Odilésio Somavilla, 54 anos, e Dejanira Somavilla, 35, adaptaram uma sala de
aula particular para o filho em meio ao plantio.
O sinal lá é bom, e
assim ele não pega frio nem chuva. A lavoura é um trabalho muito duro, e a
gente quer que ele siga adiante. Eu não tive estudo, e hoje me faz falta —
afirma Dejanira.
Com galhos de
árvores pregados do solo ao teto, e uma lona estendida sobre as toras, Alan
Somavilla, 11 anos, copia o conteúdo no caderno. No chão, uma espécie de colcha
cobre a terra.
Uma classe e uma
cadeira foram emprestadas pela direção da escola e posicionadas no meio da
estrutura. Na ponta da mesa, um suporte de madeira apoia o smartphone, comprado
exclusivamente para as atividades curriculares.
Alan cursa o sexto
ano na Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Itaúba, no distrito que tem
o mesmo nome da instituição. O menino nega ser bagunceiro e ressalta nunca ter
repetido qualquer série. Por telefone — ligação que só pôde ser completada após
o estudante sair do quarto de casa e ir até a cabana —, ele diz que quer ser
advogado. E elogia a iniciativa dos pais.
— Tenho orgulho de
eles terem feito isso pra mim. Eu consigo acompanhar tudo, estou conseguindo
aprender mesmo. De tarde fica um pouco quente lá dentro, mas se chove não molha
nada, e eu fico lá. É bem legal — conta.
A barraca foi
montada em julho, após os pais terem observado o filho tentando captar o melhor
ponto para acompanhar as aulas. A residência da família, no topo da
propriedade, fica a poucos metros da tenda, localizada logo abaixo.
— É só elogio que a
gente ganha depois de fazer isso. Parabéns e parabéns. Nos deixa muito
emocionados — complementa a mãe.
Com fala simples e
sotaque carregado, o pai para ao lado da barraca e explica a intenção de
proteger o menino das intempéries do clima. Ele lembra da busca por pedaços de
madeira e diz fazer o máximo para não deixar o garoto desassistido.
— A gente ajuda como
pode — explica Odilésio.
De acordo com a
diretora da EEEF Itaúba, Giovana Carvalho Dalcin, 46 anos, os problemas com a
internet são recorrentes entre as turmas.
— Tem aluno que
escala árvore, outro que sobe o morro, ou que pega wifi emprestado do vizinho.
Na escola em si, pega, mas sai um pouco para o interior e já não tem — diz.
Há 27 anos na
instituição, Giovana foi aluna, professora — inclusive de Alan — e hoje comanda
os 117 matriculados das turmas de primeiro a nono ano. Ela vê na atitude dos
agricultores um exemplo que vai moldar o caráter do estudante.
— Esses pais
poderiam dizer que não têm internet e que ele não poderia acompanhar. Mas foram
atrás e criaram isso pra ele. Certamente será um guerreiro na vida — espera a
docente.
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