O Senado aprovou na sessão desta terça-feira (23), o adiamento do
primeiro turno das eleições municipais de 4 de outubro para o dia 15 de
novembro. Assim, a data do segundo turno passa para o dia 29 de novembro. O
adiamento das eleições em seis semanas se dá em virtude do cenário
epidemiológico do novo coronavírus (covid-19) no Brasil e a consequente
necessidade de se evitar aglomerações.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o tema foi votada em dois
turnos na sessão desta terça-feira e agora segue para Câmara dos Deputados. Por
se tratar de uma PEC, são necessários três quintos de votos favoráveis em dois
turnos. No Senado, são 49 votos; na Câmara, 308 votos.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o tema foi relatada pelo
Senador Weverton Rocha (PDT-MA). O relatório também confere ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) a prerrogativa de definir os horários de funcionamento
das sessões eleitorais, bem como eventuais medidas de distribuição dos
eleitores nas sessões para minimizar os riscos de aglomeração nos dias de
votação.
Data flexível em alguns
municípios
O relator também atendeu a um pedido do presidente do TSE, Luís Roberto
Barroso, e deixou uma espécie de “janela” que dá poderes ao tribunal para fazer
nova alteração na data das eleições, de forma pontual, em municípios nos quais
ainda se verifiquem condições sanitárias arriscadas. Caso o adiamento, em
virtude da pandemia da covid-19, for necessário em todo um estado, a
autorização de novo adiamento deverá ser feita pelo Congresso Nacional. Esses
adiamentos só poderão ocorrer até 27 de dezembro.
Além disso, o TSE também poderá ampliar hipóteses de justificativa
eleitoral nos casos em que a epidemia não desacelere e eleitores não se sintam
seguros a sair para votar. O próprio relator sinalizou positivamente sobre a
possibilidade do Congresso, caso seja necessário, aprovar anistia para os que
não forem votar.
Weverton passou a última semana conversando com médicos, epidemiologistas
e membros do TSE, como o presidente da Corte, além de líderes da Câmara e do
Senado. O Senado promoveu duas sessões de debates sobre o tema. A primeira teve
a participação apenas dos senadores. Já a segunda também teve a participação de
Barroso e de especialistas da área de saúde, bem como de advogados e do
presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Glaudemir Aroldi.
Após ouvir todas as opiniões por vários dias, Weverton finalizou seu
relatório. Ele alterou a proposta original da PEC 18, que propunha a realização
do primeiro turno no dia 6 de dezembro. “Essa ideia não saiu daqui do senado.
Fomos provocados pela realidade que estamos vivendo. Não se trata de uma
questão política, se trata de uma questão sanitária”, disse Weverton durante a
sessão de hoje.
Alguns senadores apresentaram emendas para o relatório. Dentre elas, a
realização do primeiro turno em dois dias, em vez de um; e a instituição do
voto facultativo no Brasil. O relator rejeitou as propostas. “Tomar essa
providência nesse momento poderia representar sério desincentivo à participação
dos eleitores”, argumentou Weverton ao rejeitar a sugestão de voto facultativo”.
Adiamento por dois anos
Alguns senadores sugeriram o adiamento das eleições por dois anos, com a
consequente prorrogação do mandato dos atuais prefeitos e vereadores, para
estabelecer a coincidência de mandatos destes com governadores, deputados estaduais,
federais, senadores e o presidente da República. “Há incertezas científicas em
relação a essa pandemia. E há certezas, como o isolamento social como sendo a
melhor forma de prevenção. Isso me põe a afirmar que a realização de eleições
este ano são uma temeridade”, disse o líder do Democratas, Rodrigo Pacheco
(DEM-MG).
Ontem, durante a segunda sessão de debates, o presidente do TSE já havia
expressado sua temeridade em relação a ideia de não se fazer eleição em 2020.
Barroso esclareceu que há um problema constitucional nessa prorrogação de
mandatos, uma vez que a periodicidade dos mandatos é uma cláusula pétrea da
Constituição, ou seja, não pode ser alterada.
“A única possibilidade de se prorrogarem mandatos é se chegarmos ao final
de dezembro e as autoridades médicas nos digam ‘isto é dramático do ponto de
vista de saúde pública’. E aí, diante da emergência, a gente delibera com a
emergência”, disse Barroso, na ocasião.
O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), seguiu o
raciocínio do magistrado. Para ele, o Congresso não pode “aproveitar a carona
do vírus para dar mais dois anos de mandato” a prefeitos e vereadores. Weverton
também não acolheu essa ideia. No entanto, defendeu que se o cenário
epidemiológico estiver caótico a ponto dos médicos não recomendarem eleições em
novembro ou dezembro, o Congresso terá respaldo para discutir a prorrogação de
mandatos sem ferir a Constituição, algo que, na avaliação do relator, ainda não
se verifica.
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