'Será que somos cobaias?' Idosos franceses desconfiam de vacina contra Covid

15/12/2020 - 10h55

Yann Reboulleau, que chefia uma casa de repouso da França, está tentando persuadir a moradora Madeleine Bonnet, de 92 anos, dos benefícios de se tomar uma vacina contra Covid-19, e está tendo dificuldade.

"Será que somos cobaias?", questionou Bonnet, que trabalhava como farmacêutica. Reboulleau observou que as vacinas passam por testes prolongados que garantem sua segurança, ao que a paciente retrucou: "Mas com quanta certeza?"

Cientistas dizem que a distribuição de vacinas contra Covid-19 --assim que elas receberem aprovação regulatória na Europa nas próxima semanas-- terão uma grande importância para se debelar um vírus que só na França contribuiu para mais de 58 mil mortes.

Mas a eficácia da vacina pode ser comprometida, dizem cientistas, por uma relutância generalizada dos franceses para recebê-la --mais da metade da população diz que não aceitará, ou provavelmente não aceitará, ser inoculada, mostram pesquisas.

Esta relutância ecoa na casa de repouso "Mon Repos", nos arredores de Paris, apesar de os moradores, cujas idades variam entre 87 e 100 anos, estarem entre os grupos mais vulneráveis a ficar gravemente doentes ou morrerem de Covid-19.

Na primeira onda do vírus, no inicio do ano, a casa teve um foco de infecções durante o qual quatro moradores morreram. Nacionalmente, mais de 17 mil fatalidades relacionadas à Covid ocorreram em casas de repouso, e 93% de todas as vítimas fatais da Covid-19 tinham 65 anos ou mais, revelaram cifras de saúde pública.

Laurent Levasseur, presidente da Bluelinea, que ajuda casas de repouso a lidarem com o vírus, entre elas a "Mon Repos", disse que sua empresa entrevistou moradores por telefone e que os que estão indecisos ou rejeitam a vacina superam os que são favoráveis.

Sentada perto de uma árvore de Natal, Bonnet disse que desconfia dos motivos das empresas farmacêuticas que se apressam para conseguir aprovação para suas vacinas e distribui-las em tempo recorde.

Se suas ações são movidas pelo lucro, isto não a deixa à vontade, disse. Se o esquema é para o progresso da ciência médica, ela é a favor e está disposta a participar.

Mas por ora, ela ainda não decidiu se aceitará a vacina quando lhe for oferecida.

"Veremos", disse.

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