MST BAHIA/DIVULGAÇÃO - 27.2.2023
As invasões coletivas de terras no Brasil em 2023 ultrapassaram todos os registros de 2019, primeiro ano de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). São 13 ocupações já registradas desde a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 1º de janeiro. Em 2019, foram 11 ocupações, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Se considerada toda a gestão de Bolsonaro, as invasões deste ano representam 21% do acumulado entre 2019 e 2022 (62). O Incra informou ao R7 que não é possível saber a autoria das invasões, porque a autarquia apenas recebe os dados.
O governo de
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foi o que registrou mais ocupações —
2.442, seguido pelos dois primeiros mandatos de Lula, que acumulou 1.968
invasões. O Incra contabiliza os números desde 1995. Confira os dados no fim
desta reportagem.
O grupo mais atuante pela bandeira da reforma agrária é o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Em 27 de fevereiro, o MST invadiu três fazendas de eucalipto no sul da Bahia, da empresa de papel e celulose Suzano.
Os militantes permaneceram no local até 7 de março. No dia seguinte, integrantes do MST invadiram prédios públicos no Pará, Piauí e Rio Grande do Sul.
O MST informou
ao R7 que "tem como linha política nacional ocupar
latifúndios que não cumprem a função social da terra, conforme prevê a
Constituição. Ou seja, que sejam improdutivos, não respeitem a legislação
trabalhista nem a legislação ambiental".
Ainda de acordo com
o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, as ocupações são feitas
"como um ato de protesto para o governo cumprir a lei e assentar as
famílias acampadas, conforme a lei".
Também em
fevereiro, durante o Carnaval, a Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL) ocupou
propriedades em ao menos dez cidades — na região do Pontal do Paranapanema, em
São Paulo; em Ponta Grossa, no Paraná; e em Mato Grosso do Sul. A reportagem
não obteve retorno da FNL até a última atualização deste texto.
Reações
As ações dos
movimentos repercurtiram no Congresso Nacional. O deputado federal
Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS) pediu a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI)
na Câmara para investigar as ações do MST. O requerimento
atingiu o número mínimo de assinaturas na última quarta-feira (15). A abertura agora depende do presidente
da casa, Arthur Lira (PP-AL).
"O setor
produtivo está vendo essa insegurança no campo com muita preocupação. É uma
escalada estranha, justamente na retomada de um governo de esquerda, que teve o
apoio formal dos movimentos. O presidente Lula esteve diversas vezes em
assentamentos para pedir voto durante a campanha, prometeu espaços no governo,
e esses espaços vêm sendo concedidos — não na velocidade que os movimentos
esperavam, e talvez por isso que começaram a fazer pressão, uma espécie de fogo
amigo, para pressionar o governo Lula", opinou o deputado, que é
integrante da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Invasões coletivas de terras
públicas e particulares
>>Total de 1995 a
2002 (governo de Fernando Henrique Cardoso): 2.442
>>Total de 2003 a
2010 (governo de Luiz Inácio Lula da Silva): 1.968
>>Total de 2011 a
2015 (governo de Dilma Rousseff): 912
>>Total de 2016 a
2018 (governo de Michel Temer): 111
>>Total de 2019 a
2022 (governo de Jair Bolsonaro): 62
Os dados de 1995 a
2016 são da antiga Ouvidoria Agrária Nacional, ligada ao então Ministério do
Desenvolvimento Agrário. As informações de 2017 a 2022 foram extraídas do
Sistema de Controle de Tensões e Conflitos Agrários (CTCA), do Incra.
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