Após o anúncio
da soltura de pouco mais de 1 mil detentos de Santa Catarina por
conta do coronavírus, o desembargador Leopoldo Brüggemann, supervisor do Grupo
de Monitoramento e Fiscalização do Tribunal de Justiça, afirmou que a decisão
foi tomada “para evitar rebeliões” nas unidades prisionais do Estado.
O objetivo também é
afastar a possibilidade de “colapso” no sistema. A declaração foi feita na
manhã deste domingo (22).
Na última
terça-feira (17), o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) emitiu uma recomendação
aos tribunais e magistrados quanto à redução do fluxo de ingresso no sistema
prisional e socioeducativo do Brasil, bem como sobre a concessão de saída
antecipada. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina repassou a orientação em
seguida.
A preocupação do
Judiciário de Santa Catarina é evitar também que algum interno seja infectado
pela doença. Conforme Brüggemann, 58% estão no grupo de risco do coronavírus
(idosos, tuberculosos e portadores de doenças crônicas).
Além disso, o
sistema penal do Estado conta com déficit de mais de 5 mil vagas.
Por isso, as unidades não conseguem fazer o isolamento dos detentos.
“É para evitar um
colapso do sistema. Se alguém se infectar, vai ser um efeito dominó. Nós,
trabalhadores aqui fora, já fomos orientados sobre o isolamento social e temos
condições de ficar em lugares ventilados e cuidar da saúde, imagine as pessoas
dentro do sistema”, disse.
Rebeliões
Na última semana,
após o governador Carlos Moisés ter declarado estado de emergência no
território catarinense, a secretaria da Administração Prisional decidiu
suspender as visitas nos presídios. Como consequência,
o efetivo de segurança foi reforçado nas unidades prevendo
a possibilidade de rebeliões.
Segundo Brüggemann,
a decisão da soltura busca também evitar que se repita o “cenário de São
Paulo”. Na última semana, suspensão do benefício da saída temporária em São
Paulo por conta do coronavírus resultou em rebeliões em quatro cadeias. Mais de
1,3 mil presos fugiram.
Preocupação com aumento da violência
Mesmo que a medida
tenha por base aspectos de saúde e epidemiologia sobre o coronavírus, a saída
dos presos acendeu um alerta na segurança de Santa Catarina.
Conforme o
comandante Geral da Polícia Militar, coronel Araújo Gomes, haverá um “impacto
negativo sobre o perfil de incidência de crime, violência e desordem” no
Estado.
Segundo o chefe da
PM no Estado, a preocupação é de que, ao serem liberados em um momento em que
não há empregos disponíveis e com circulação reduzida, eles possam voltar a
cometer crimes.
“Quero acreditar
que seja para evitar mal maior, atingindo apenados que entram e saem das
cadeias em razão de seus regimes de cumprimento de pena, reduzindo o risco para
os demais presos. Mas, com certeza, a liberação de presos nesta quantidade terá
impacto negativo sobre o perfil de incidência de crime, violência e desordem”,
disse.
Desde quarta-feira
(18), cerca de 2 mil agentes estão sendo designados para ações perto de
supermercados, farmácias e postos de combustíveis. O objetivo é orientar e
organizar a população para a adoção das medidas restritivas durante a pandemia.
Além disso, a PM trabalha para evitar confusões e aglomerações.
Todos os presos
foram liberados mediante o uso de tornozeleiras eletrônicas e outras medidas
cautelares – como determinação de permanecer em casa e não se ausentar do
município em que é residente. Segundo o TJ, os apenados devem permanecer fora
das unidades até segunda ordem.
O número de quantos
presos foram liberados em cada uma das 51 unidades e os detalhes das medidas
cautelares ainda não foram divulgadas pelo Deap (Departamento de Administração
Prisional).
Medidas de prevenção
Desde que o
coronavírus chegou ao Estado, o Deap passou a implementar medidas de prevenção.
Na última semana, o departamento criou uma sala de situação que está
coordenando todas as atividades dentro das unidades.
Por meio de nota, o
departamento informou que houve “treinamento dos servidores sobre os
cuidados”. Cada preso recebeu um kit individual de proteção.
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