O tomógrafo por
impedância elétrica (TIE), desenvolvido pela startup Timpel, empresa que está
em Pato Branco, com apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas
(PIPE), tem sido utilizado em diversos países no tratamento de pacientes com
covid-19 em estado grave.
O equipamento
permite que as equipes médicas avaliem ininterruptamente e de forma não
invasiva, à beira do leito, a condição do pulmão dos pacientes com
insuficiência respiratória. Dessa forma, é possível otimizar a ventilação
artificial para diminuir o tempo de dependência e, consequentemente, os efeitos
colaterais da intubação.
Inicialmente, o
equipamento foi projetado para monitorar pacientes que precisam de ventilação
artificial em unidades de terapia intensiva (UTIs), independentemente da
doença.
Com a pandemia do
novo coronavírus, os pesquisadores da empresa começaram a adaptar a tecnologia
para auxiliar equipes médicas no tratamento de pacientes em estado grave por
meio de um projeto selecionado em um edital lançado pelo PIPE-Fapesp em
parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), para apoiar o
desenvolvimento de produtos, serviços ou processos criados por startups e
pequenas empresas de base tecnológica voltados ao combate da covid-19.
“A ideia é usar,
inclusive, o conhecimento acumulado por médicos que atuaram no atendimento de
pacientes com covid-19 na Europa, em países como a Itália e a Espanha, onde o
pico dos casos da doença já foi atingido, e também nos Estados Unidos e no
Brasil, onde os casos continuam crescendo, para aprimorar o equipamento de
forma que seu uso seja ainda mais direcionado e intuitivo”, diz Rafael
Holzhacker, presidente da empresa.
O equipamento faz a
avaliação da resistência à passagem de uma corrente elétrica (a impedância),
que varia substancialmente devido ao ar nos pulmões, na medida em que o
paciente inspira e expira.
Por meio de uma
cinta com 32 eletrodos, o tomógrafo emite uma corrente elétrica de baixa
intensidade ao redor do tórax do paciente – similar à corrente elétrica
utilizada em exames de eletrocardiograma.
À medida que
atravessa o tórax e encontra diferentes resistências no percurso, a corrente
elétrica indica a região dos pulmões por onde o ar está circulando. Com base na
impedância medida na superfície do tórax são geradas 50 imagens por segundo,
que representam a distribuição e a dinâmica de insuflação do pulmão, fornecendo
uma informação vital ao médico, em tempo real, à beira do leito.
Um software
integrado ao equipamento permite à equipe médica avaliar a melhor estratégia de
ventilação protetora para o paciente. “O equipamento possibilita avaliar a
evolução do paciente no leito, reduzindo a necessidade de fazer tomografias por
raios X recorrentes e o risco de transportá-lo para a radiologia, uma operação
muito arriscada para pacientes com covid-19, que precisam ser mantidos em
isolamento”, afirma Holzhacker.
Série de inovações
Os pesquisadores
pretendem agora simplificar a eletrônica embarcada no equipamento, de modo a
reduzir o custo da máquina. Além disso, o TIE poderá ser operado de forma
remota pela equipe médica, possibilitando que os profissionais de saúde não
precisem circular muito dentro das UTIs.
“Isso também
permitirá que as equipes de hospitais de referência possam contribuir com
hospitais localizados em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos e
com poucos recursos humanos”, avalia Holzhacker.
Ao contrário do que
ocorre com os tomógrafos em operação hoje, todas as cintas e os eletrodos que
entram em contato com a pele do paciente também passarão a ser totalmente
descartados.
“Vamos configurar o
equipamento para funcionar com bateria, o que pode ser útil em situações de
transporte e em áreas mais remotas do país”, afirma Holzhacker.
Outra inovação,
segundo o executivo, será o desenvolvimento de um aplicativo totalmente novo
para o monitoramento da ventilação mecânica, que irá incorporar as
características clínicas que estão sendo observadas nos casos de covid-19.
“Toda essa série de inovações tem o objetivo de facilitar o trabalho das
equipes médicas”, diz Holzhacker.
Os estudos sobre os
casos de covid-19 e a experiência clínica dos médicos envolvidos no tratamento
de pacientes com a doença mostram que o ajuste da ventilação assistida nas UTIs
deve ser feito de forma individualizada, para que se consiga, inclusive,
minimizar os eventos adversos causados pela própria ventilação mecânica,
sublinha.
“É um equipamento
que pode ser comprado tanto pelo setor público como privado e que vai atender a
uma demanda que tende a continuar alta, infelizmente, por um bom tempo”,
estima.
Hoje há mais de 150
TIE em funcionamento nos Estados Unidos, Itália, Espanha e outros países. No
Brasil, o equipamento é usado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP), no Hospital Emílio Ribas, no
Instituto do Coração (Incor) e em diversos hospitais privados.
Inicialmente, a
Timpel foi incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia
(Cietec), em São Paulo. Os primeiros equipamentos surgiram por meio de um
convênio entre a empresa, a Faculdade de Medicina, a Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal do ABC (UFABC).
Os primeiros
equipamentos começaram a ser vendidos em 2015, após aprovação da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Comunidade Europeia e,
posteriormente, da Food and Drug Administration (FDA) – a agência regulatória
do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.
A empresa possui uma filial na Holanda.
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