Testes realizados
no Laboratório de Tecnologia Virológica (Latev) de Bio-Manguinhos confirmaram a
eficácia contra o coronavírus SARS-COV-2 de um tecido com propriedades
antivirais. Financiado pelo Edital de Inovação para a Indústria do Senai, o
projeto é uma parceria entre a empresa catarinense Diklatex e o Centro de
Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai/Cetiqt).
Os resultados foram
apresentados em uma transmissão ao vivo na tarde desta quarta (22). Segundo os
pesquisadores, uma das formulações testadas conseguiu inativar 99,9% de
partículas virais do novo coronavírus e dos vírus do sarampo e da caxumba.
Contra o agente causador da covid-19, a inativação se concretizou em apenas um
minuto após o contato do microorganismo com a máscara.
O trabalho para
desenvolver o tecido começou em março e envolve uma equipe de médicos,
microbiologistas e engenheiros. Os testes foram realizados em Bio-Manguinhos,
na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), devido ao nível de segurança requerido para
as pesquisas. A chefe do Latev, Sheila Maria Barbosa de Lima, destacou que a
pesquisa faz parte do esforço da Fiocruz de enfrentar um dos maiores desafios
de sua história no ano em que completa 120 anos. “Nosso desenvolvimento
tecnológico aqui trabalha na frente de vacinas, kits diagnósticos, fármacos.
Essa parte de tecido é totalmente nova pra gente”.
A pesquisa primeiro
testou a eficácia dos tecidos nos vírus causadores do sarampo e da caxumba, que
requerem laboratórios com nível de segurança NB-2. Os dois antígenos foram
escolhidos por suas semelhanças moleculares e na forma de transmissão com o
SARS-CoV-2. Com as melhores formulações selecionadas, os cientistas partiram
para o laboratório com nível de segurança NB-3, exigido para realizar testes
com o novo coronavírus.
Os pesquisadores
estudaram variações de prata, zinco e compostos orgânicos, buscando produtos
leves, que não agredissem a pele ou afetassem a respiração. O engenheiro têxtil
Eduardo Habitzreuter, da Diklatex, explicou que a formulação mais eficientes teve
ainda outras vantagens em relação às demais: “Uma das principais vantagens é um
custo mais baixo, e, por ser biodegradável, a gente fica mais tranquilo com o
descarte”.
A ideia é usar os
tecidos em itens hospitalares que poderão ser lavados e reutilizados, como
máscaras e aventais, que requerem especificidades diferentes. No caso das
máscaras, por exemplo, a respirabilidade é um componente importante. Já nos
aventais, os pesquisadores buscaram resistência a rasgos e a líquidos, por
exemplo, além da ação antiviral.
No caso das
máscaras, o tecido desenvolvido também possui filtragem bacteriana superior a
80%. Os testes demonstraram ainda que a ação antiviral resiste a 25 lavagens
caseiras.
Segundo o
engenheiro Raphael Bergamini, do Senai/Cetiqt, os pesquisadores devem trabalhar
agora para elevar também o nível de proteção bacteriana e certificar o material
junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O coordenador da
plataforma de Fibras do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras,
Adriano Passos, destacou os benefícios que a parceria pode trazer para a
inovação no país. “Isso abre portas para outras metodologias, porque, às vezes,
a indústria têxtil sofre para mandar isso para fora do país para fazer
análises, porque tem um custo”.
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