Vinícius Gilioli (a esq.) e Rafael Souza, durante a final da Copa Santa Catarina: a quadra reduzida e a bolinha laranja, mais lenta, permitiram a troca de bola ininterrupta por quase uma hora
A final da
categoria 9 anos da Copa Santa Catarina, disputada no último dia 29, em Itajaí,
entrou para os anais do tênis mundial.
Afinal, foi no confronto entre Rafael Nascimento e Souza, do Santos Atlético
Clube, e Vinícius Gilioli, da escola de tênis Sandro Menezes, que um dos pontos
mais longos de que se tem registro foi disputado: foram 53 minutos até que um dos tenistas errasse seu
movimento e não conseguisse devolver a bola para o lado do adversário. O saldo
foram impressionantes 1890 trocas de bola de
forma ininterrupta. Treinado por Osvaldo Maraucci, comentarista e professor da
modalidade, Rafael venceu a partida com parciais de 7/5 e 6/4.
“Ninguém esperava.
Eles estavam em uma quadra centralizada no clube, que é um ponto de
distribuição para outras quadras. Quem passava por ali, ficava. De repente,
estava cheio. Quando o ponto terminou, os garotos foram ovacionados. Com 15 minutos,
claro que os meninos começaram a cansar. Em alguns momentos, um deles perdia a
precisão, acertando a bola mais próximo do aro e foi justamente assim que
acabou o ponto: o Rafa recebeu uma bola mais alta, não bateu com precisão, a
bola acabou ficando curta e o Vinícius não conseguiu salvar”, explicou
Maraucci.
No cenário profissional,
a disputa mais longa de que se tem registro aconteceu em 1984, no torneio
Virginia Slims Ginny. Na ocasião, as tenistas Vicky Nelson e Jean Hepner
fizeram a bolinha amarela cruzar a rede 643 vezes, em 29 minutos de disputa. No
Guinness, o livro dos recordes, existe outro “ponto” bem mais demorado: em
2017, os italianos Simone Frediani e Daniele Pecci obtiveram o recorde mundial
com 51 283 toques na bola – eles começaram a bater na bolinha às 6h23 da manhã
e só pararam às 7h da noite. Claramente, o único objetivo dos dois era quebrar
a marca anterior. Tanto que os tenistas vestiam mochilas com água para se
manterem hidratados durante a tentativa.
A peculiaridade do
feito dos garotos em Santa Catarina é que ele simboliza o sucesso de um novo
método de treinamento, desenvolvido pela Federação Internacional de Tênis, que
visa tornar a introdução ao esporte mais fácil e prazerosa. Conhecido
como Play and Stay, o formato foi adotado como padrão
nas competições brasileiras das categorias de 8 a 10 anos de idade. No Play and Stay, tudo foi reduzido: o tamanho da quadra,
a altura da rede e até mesmo a velocidade das bolas (veja no quadro abaixo).
“O Play and Stay é uma metodologia
de ensino para desenvolver habilidades em faixas etárias específicas. Para mim,
esse método pode ser a salvação do tênis brasileiro, porque, devido a ele,
podemos trazer mais crianças, já que não exige uma quadra oficial de tênis,
você monta uma quadrinha e adapta à sua realidade e estrutura. Ele começa a
popularizar o esporte com base e fundamento. Vejo crianças, hoje, jogando um
tênis belíssimo e completo. A metodologia é tão legal que até adultos que nunca
jogaram tênis agora conseguem trocar bola. O ponto mais importante do feito dos
garotos é a quebra de protocolos de treinamento, da psicologia esportiva para
crianças e até mesmo para adultos”, ressaltou Maraucci.
O ex-tenista Fernando Meligeni, campeão pan-americano e semifinalista de
Roland Garros, ressaltou que é preciso ter cuidado com a idade dos garotos, mas
exaltou o feito. “Não imagino alguém ficar 53 minutos sem errar uma bola, mesmo
sendo em uma velocidade pequena, é um feito legal, mas é preciso ter muito
cuidado com a idade deles, até mesmo por causa dos pais. Alguns, por exemplo,
me perguntam quantas horas os filhos de seis, sete anos, tem de treinar. Aí
tenho de reformular a pergunta, para mostrar que, nessa idade, o filho deles
não treina, ele brinca”, comentou Meligeni.
“Outro lado bom do feito deles é a evolução da maneira que se ensina hoje. Isso só acontece por causa das bolas laranjas, diminuição de velocidade, adequação de raquetes e quadras para a molecada. Com uma bola um pouco mais lenta, os meninos dessa idade conseguem fazer o movimento inteiro porque a bola permite. Hoje, professores que treinam meninos sem usar essa metodologia, estão fazendo uma atrocidade com a criança, porque você o priva de ter prazer em jogar. Antes, a maioria de pessoas que tentava começar a jogar, desistia e não voltava. O tênis é um esporte difícil, muito técnico e apaixonante, porque toda hora ele te desafia, mas você pode facilitar essas primeiras raquetadas”, finalizou.
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