Um ponto com 53 minutos de duração? Conheça o método por trás do feito

Vinícius Gilioli (a esq.) e Rafael Souza, durante a final da Copa Santa Catarina: a quadra reduzida e a bolinha laranja, mais lenta, permitiram a troca de bola ininterrupta por quase uma hora

Vinícius Gilioli (a esq.) e Rafael Souza, durante a final da Copa Santa Catarina: a quadra reduzida e a bolinha laranja, mais lenta, permitiram a troca de bola ininterrupta por quase uma hora

11/10/2019 - 18h38

A final da categoria 9 anos da Copa Santa Catarina, disputada no último dia 29, em Itajaí, entrou para os anais do tênis mundial. Afinal, foi no confronto entre Rafael Nascimento e Souza, do Santos Atlético Clube, e Vinícius Gilioli, da escola de tênis Sandro Menezes, que um dos pontos mais longos de que se tem registro foi disputado: foram 53 minutos até que um dos tenistas errasse seu movimento e não conseguisse devolver a bola para o lado do adversário. O saldo foram impressionantes 1890 trocas de bola de forma ininterrupta. Treinado por Osvaldo Maraucci, comentarista e professor da modalidade, Rafael venceu a partida com parciais de 7/5 e 6/4.

“Ninguém esperava. Eles estavam em uma quadra centralizada no clube, que é um ponto de distribuição para outras quadras. Quem passava por ali, ficava. De repente, estava cheio. Quando o ponto terminou, os garotos foram ovacionados. Com 15 minutos, claro que os meninos começaram a cansar. Em alguns momentos, um deles perdia a precisão, acertando a bola mais próximo do aro e foi justamente assim que acabou o ponto: o Rafa recebeu uma bola mais alta, não bateu com precisão, a bola acabou ficando curta e o Vinícius não conseguiu salvar”, explicou Maraucci.

No cenário profissional, a disputa mais longa de que se tem registro aconteceu em 1984, no torneio Virginia Slims Ginny. Na ocasião, as tenistas Vicky Nelson e Jean Hepner fizeram a bolinha amarela cruzar a rede 643 vezes, em 29 minutos de disputa. No Guinness, o livro dos recordes, existe outro “ponto” bem mais demorado: em 2017, os italianos Simone Frediani e Daniele Pecci obtiveram o recorde mundial com 51 283 toques na bola – eles começaram a bater na bolinha às 6h23 da manhã e só pararam às 7h da noite. Claramente, o único objetivo dos dois era quebrar a marca anterior. Tanto que os tenistas vestiam mochilas com água para se manterem hidratados durante a tentativa.

A peculiaridade do feito dos garotos em Santa Catarina é que ele simboliza o sucesso de um novo método de treinamento, desenvolvido pela Federação Internacional de Tênis, que visa tornar a introdução ao esporte mais fácil e prazerosa. Conhecido como Play and Stay, o formato foi adotado como padrão nas competições brasileiras das categorias de 8 a 10 anos de idade. No Play and Stay, tudo foi reduzido: o tamanho da quadra, a altura da rede e até mesmo a velocidade das bolas (veja no quadro abaixo).


“O Play and Stay é uma metodologia de ensino para desenvolver habilidades em faixas etárias específicas. Para mim, esse método pode ser a salvação do tênis brasileiro, porque, devido a ele, podemos trazer mais crianças, já que não exige uma quadra oficial de tênis, você monta uma quadrinha e adapta à sua realidade e estrutura. Ele começa a popularizar o esporte com base e fundamento. Vejo crianças, hoje, jogando um tênis belíssimo e completo. A metodologia é tão legal que até adultos que nunca jogaram tênis agora conseguem trocar bola. O ponto mais importante do feito dos garotos é a quebra de protocolos de treinamento, da psicologia esportiva para crianças e até mesmo para adultos”, ressaltou Maraucci.

O ex-tenista Fernando Meligeni, campeão pan-americano e semifinalista de Roland Garros, ressaltou que é preciso ter cuidado com a idade dos garotos, mas exaltou o feito. “Não imagino alguém ficar 53 minutos sem errar uma bola, mesmo sendo em uma velocidade pequena, é um feito legal, mas é preciso ter muito cuidado com a idade deles, até mesmo por causa dos pais. Alguns, por exemplo, me perguntam quantas horas os filhos de seis, sete anos, tem de treinar. Aí tenho de reformular a pergunta, para mostrar que, nessa idade, o filho deles não treina, ele brinca”, comentou Meligeni.

“Outro lado bom do feito deles é a evolução da maneira que se ensina hoje. Isso só acontece por causa das bolas laranjas, diminuição de velocidade, adequação de raquetes e quadras para a molecada. Com uma bola um pouco mais lenta, os meninos dessa idade conseguem fazer o movimento inteiro porque a bola permite. Hoje, professores que treinam meninos sem usar essa metodologia, estão fazendo uma atrocidade com a criança, porque você o priva de ter prazer em jogar. Antes, a maioria de pessoas que tentava começar a jogar, desistia e não voltava. O tênis é um esporte difícil, muito técnico e apaixonante, porque toda hora ele te desafia, mas você pode facilitar essas primeiras raquetadas”, finalizou.

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