A proporção de idosos acima dos 65 anos que fazem uso de antidepressivos mais do que dobrou nas últimas duas décadas. No entanto, o número de pessoas mais velhas diagnosticadas com depressão não teve oscilação dessa magnitude. Talvez, portanto, não estejamos resolvendo nenhum problema, e sim nos medicando cada vez mais.
O estudo resultou
de uma parceria das universidades de Cambridge, East Anglia, Newcastle e
Nottingham, todas no Reino Unido, e foi publicado no “British Journal of
Psychiatry”. Os dados são tão volumosos que, mesmo se referindo a britânicos,
valem para nossa reflexão.
Os pesquisadores se basearam em levantamentos realizados entre 1991 e
1993 e entre 2008 e 2011, nos quais foram entrevistadas mais de 15 mil pessoas
na Inglaterra e no País de Gales. No primeiro período analisado, 4.2% dos
idosos usavam antidepressivos, enquanto, 20 anos depois, esse percentual pulou
para 10.7%. Em relação à ocorrência da doença, nos anos de 1990, o contingente
afetado girava em torno de 7.9%, tendo baixado para 6.8%. Nas duas fases do
estudo, a enfermidade era mais comum entre as mulheres.
O professor Antony Arthur, pesquisador de East Anglia, lembrou que a
depressão afeta a qualidade de vida no mundo inteiro, mas que ainda não há
muitas informações relacionadas aos idosos. “A depressão atinge uma em cada 15
pessoas acima dos 65 anos e isso impacta o indivíduo e sua família. Houve uma
mudança pequena na prevalência da doença, mas a proporção de pacientes tomando
antidepressivos teve um salto. Isso pode ter sido provocado não só pelo
diagnóstico correto, mas também por um excesso de prescrições ou utilização da
medicação para outras condições de saúde. Qualquer que seja a explicação, esse
aumento substancial não reduziu a depressão na população acima dos 65 anos”,
afirmou.
Os participantes foram ouvidos sobre as atividades diárias, os cuidados com a saúde e remédios que tomavam. Os questionários tinham ainda o objetivo de averiguar a existência de depressão entre os entrevistados. A professora Carol Brayne, do Instituto de Saúde Pública da Universidade de Cambridge, comentou: “enquanto o número de casos de demência vem caindo, esse novo trabalho mostra que a depressão não apresentou redução, mesmo com a utilização dramaticamente aumentada de medicamentos. O quadro nos traz preocupação, dado o potencial de efeitos adversos da combinação de medicações diferentes em idosos”. Para o professor Antony Arthur, o quadro merece atenção: “as causas e os fatores que perpetuam a depressão, além das melhores práticas para administrar a doença, continuam sem o endereçamento devido”.
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