A vacina russa para
a Covid-19 deverá dar imunidade à doença por no mínimo 2 anos, anunciou nesta
quinta-feira (20) o Instituto Gamaleya, em Moscou, que desenvolveu a vacina,
batizada de "Sputnik V".
A vacina foi registrada na semana passada pelo governo russo, mas, até
agora, não foram publicados estudos que mostrem os resultados dos
testes da imunização. Por isso, ela é vista com desconfiança pela comunidade
internacional.
O Gamaleya também anunciou que a vacina deverá ser aplicada, a partir da
semana que vem, em mais de 40 mil pessoas em 45 centros médicos na Rússia,
como parte dos ensaios de fase 3. A vacinação em massa tem previsão de começar
em outubro no país, e a exportação, em novembro.
O país estuda diversas parcerias internacionais para os testes e a
produção das vacinas, inclusive com o Brasil, segundo os cientistas do
instituto. Não foi informado, entretanto, se já havia algum trato fechado para
testar a Sputnik V fora do território russo.
O governo do Paraná firmou uma parceria com o governo russo para
desenvolver a vacina, mas nenhum teste clínico foi aprovado pela Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) até agora. A última imunização a ser autorizada para ensaios no país foi
a Ad26.COV2.S, da Johnson & Johnson.
Sem estudos
Segundo o site da vacina, ela foi testada em animais antes de ser
aplicada em humanos – incluindo em dois tipos de primatas. A Rússia não publicou, entretanto, nenhum estudo científico sobre
os testes que realizou.
Os testes em humanos começaram em 18 de junho, quando o primeiro grupo,
de 18 voluntários, recebeu a imunização em sua forma liofilizada (a
liofilização é uma espécie de "desidratação da vacina", que
estabiliza a molécula). Cinco dias depois, no dia 23, mais 20 pessoas receberam
a dose, também deste tipo.
Segundo os detalhes disponíveis on-line sobre os testes com a vacina (na
versão liofilizada e líquida), os primeiros
18 voluntários da forma liofilizada foram divididos em dois grupos de 9
pessoas. Cada um dos grupos recebeu uma única dose da vacina; a diferença entre
eles era o adenovírus que servia de "transporte" para a proteína do
novo coronavírus. Essa
etapa correspondeu à fase 1 dos experimentos.
A fase 2 foi a dos 20 voluntários, que começou os testes no dia 23 de
junho. Essas pessoas receberam, além da primeira dose, um reforço, previsto
para 21 dias após a primeira dose. Diferentemente dos 18 primeiros, todos os 20
voluntários da fase 2 receberam ambas as vacinas (cada uma com um tipo de
adenovírus).
Em julho, a Rússia anunciou que a vacina induziu a produção de anticorpos na
primeira fase de testes. No mesmo mês, a Universidade Sechenov,
em Moscou, informou que outra versão da mesma vacina, em forma líquida, estava
sendo testada em outros 38 voluntários em um hospital militar da capital russa.
Os voluntários foram divididos da mesma forma que os da vacina liofilizada.
Os testes de fase 1 e 2 foram completados no dia 1º de agosto, segundo o
site oficial da vacina.
"Nenhum participante dos atuais ensaios clínicos foi infectado com
Covid-19 após ter a vacina administrada", diz o site.
"A alta eficácia da vacina foi confirmada por testes de alta
precisão para anticorpos no soro sanguíneo de voluntários (incluindo uma
análise para anticorpos que neutralizam o coronavírus), bem como a capacidade
das células imunes dos voluntários se ativarem em resposta à proteína S do
coronavírus, que indica a formação de anticorpos e resposta imune celular", afirma o texto.
Felix Ershov, membro da Academia Russa de Ciências, afirmou que a vacina
é segura e eficaz.
"A segurança da
vacina é garantida, pois utiliza um vírus do resfriado inofensivo para o homem
e não contém o coronavírus propriamente dito, estando presente apenas uma parte
de seu código genético, afastando assim a possibilidade de infecção",
declarou.
"Mas está garantida a produção dos anticorpos necessários à
proteção do organismo, o que é demonstrado não só nos resultados dos testes,
mas também na utilização de outras vacinas deste tipo", acrescentou
Ershov.
"Esta vacina não é integral como acontecia com as vacinas
anteriores (vírus vivo ou inativado). Ela foi projetada com biotecnologia
avançada", completou.
O vice-diretor de Anestesiologia e Reanimação do Hospital nº 52 de
Moscou, Sergey Tsarenko, comparou o mecanismo de funcionamento da vacina ao
lançamento de uma nave espacial.
"Uma estação orbital, um filamento do coronavírus, é ligada ao
adenovírus, inofensivo para os humanos, [que funciona] como um veículo de
lançamento, e também pode ser lançado dentro do corpo humano", disse.
"Depois disso, a imunidade é desenvolvida tanto para o 'veículo
lançador' quanto para a 'estação orbital'. Em seguida, três semanas depois, a
mesma 'estação orbital' é lançada em outro 'veículo de lançamento', isto é, um
adenovírus diferente", explicou Tsarenko.
"Várias outras vacinas vetoriais estão sendo criadas em todo o
mundo, mas até agora ninguém considerou a possibilidade de usar dois 'veículos de
lançamento' para atingir esse objetivo. Além disso, os primeiros testadores
foram funcionários do Instituto Gamaleya", acrescentou.
"Em seguida, a
vacina foi testada em outros voluntários. Não houve uma única complicação e
todos os participantes exibiram uma poderosa resposta imunológica", disse
Tsarenko.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse que a vacina russa é
"eficaz", passou em todos os testes necessários e permitiu obter uma
"imunidade estável" contra a Covid-19. Putin também disse que uma de
suas filhas já tomou a vacina. Suas filhas são Maria, de 35 anos, e Ekaterina,
34, mas não há informação sobre qual delas tomou a vacina.
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