Frente da Creche Aquarela, em Saudades, Oeste catarinense – Foto: Secom/Divulgação
O MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) detalhou, em coletiva
de imprensa nesta sexta-feira (21), o passo a passo do jovem 18
anos, responsável pela cachina na escola Infantil Pró-Infância Aquarela, em
Saudades, no Oeste de Santa Catarina, antes e no dia do crime que chocou o país
no início de maio.
De acordo com o promotor de Justiça, Douglas
Dellazari, o planejamento do crime começou
dez meses antes do ocorrido. A intenção do autor era provocar um
“verdadeiro massacre” no local, matando o maior número de pessoas possíveis.
A informação foi identificada a partir da quebra de sigilo do notebook do jovem. Segundo Dellazari, foi possível verificar inúmeros acessos e pesquisas do autor a páginas com conteúdo de violência e que fomentavam “matança generalizada”.
“O denunciado nutria uma especial idolatria por assassinos em série, criminosos, assassinatos em massa”, explica o promotor.
O autor do crime, inclusive,
pesquisou quando haveria o retorno das aulas presenciais nas escolas do Estado,
em específico na cidade de Saudades. Na véspera da tragédia, dia 3 de maio, ele
pesquisou especificamente sobre a creche onde houve atentado. “Ele vinha
planejando há muito tempo o ataque. Ele delineou o alvo mais fácil”, afirma
Dellazari.
“O objetivo de matar o máximo de pessoas se conecta ao interesse de fama e
reconhecimento que ele queria ter dentro do meio que vivia na internet”, conta
o MP.
“Ele pesquisou sobre armas de fogo, armas brancas, arco e
flecha. Por várias vezes ele tentou adquirir arma de fogo, não conseguiu e
passou a avaliar a possibilidade de usar armas brancas. Ele fez pesquisas na
internet sobre massacres em escolas feitos com armas brancas, isso mostra como
o crime foi planejado”, reforça o promotor.
Dia do crime
No dia do crime o jovem chegou a
ir trabalhar, saiu no intervalo, passou em casa, fez um lanche e de bicicleta
foi até a creche, onde chegou
por volta das 9h50. Ele então entrou no local e foi visto por
alguns funcionários.
Até ser abordado, segundo o MP, o
suspeito teve tempo de explorar a estrutura local e verificar a disposição das
salas.
“Uma das educadoras então sai de encontro ao jovem para verificar o que ele
queria e é atacada. Após isso, uma segunda educadora também foi atacada. Uma
morreu no local e outra chegou a ser levada ao hospital, mas não resistiu”,
detalha o promotor.
Após atacar as duas primeiras vítimas, o autor então segue até
uma sala onde havia bebês e três educadoras. Ele tenta usar a força física para
abrir a porta, mas as educadoras, já cientes do que estava acontecendo,
seguraram a porta.
Não satisfeito, ele então desiste e parte em busca de outra sala
para fazer mais vítimas. “Nessa outra sala ele forçou tanto a entrada que
chegou a entortar as estruturas da porta. Ele deu chutes em uma vidraça que
tinha na porta, a perna dele chegou a entrar no recinto”, conta Dellazari.
Procura por
vítimas
Não conseguindo novamente, ele
pega um caminho em direção a uma parte anexa da creche na parte de trás,
procurando novas vítimas. Chegando nessa estrutura, ele se aproxima de uma
janela, quando uma professora, que ouviu os gritos, abre a janela para ver o
que estava acontecendo.
“Ele então, com a faca
de 68 centímetros desfere os golpes contra ela. Ela, no
entanto, consegue desviar, mas ele chegou a cortar a máscara de proteção contra
a Covid-19 dela. Por sorte, não a feriu gravemente”, pontua o promotor.
Na sequência ele sai desta parte
anexa e ruma para outra sala e começa a incrementar o que o MP chamou de “tom
sádico e debochado” batendo com a faca nos vidros das janelas das salas. Ele
então, percebe que uma outra profissional, que estava na primeira parte da
creche, estava fora da sala.
Ela vê o jovem e então sai gritando por socorro. É quando o autor do crime
retorna à sala do maternal 3 e encontra as quatro crianças sozinhas. Ele se
aproveita da situação e fere as quatro crianças. Três
morreram, duas ainda no local, e uma sobreviveu.
Vizinhos
ouvem gritos
Dando sequência ao massacre, ainda dentro da sala do maternal 3
ele ingressa em uma parte onde há, segundo MP, um banheiro e passa a distribuir
ali artefatos explosivos. “O objetivo dele era criar um clima de ainda mais
terror”, explica o MP.
Vizinhos e pessoas que estavam próximas a creche escutaram os
gritos e entraram no local para ver o que estava acontecendo. Elas então vão
até a sala do maternal 3, quando avistam o suspeito próximo a porta do
banheiro.
Em uma reação de defesa, o jovem
retorna ao banheiro. Nisso, um homem consegue resgatar duas crianças que haviam
sido feridas – uma
sobreviveu e a outra morreu no hospital.
Após os artefatos explosivos começarem a fazer barulho, as pessoas então deixam
a sala e vão para a rua. Na sequência, o autor vai até a entrada da creche para
tentar fugir, mas se depara com várias pessoas, algumas portando barras de
ferro.
Ele então volta correndo para a sala do maternal 3 e as pessoas
seguem atrás dele. Encurralado é quando ele começa a desferir golpes contra si.
Ele então cai próximo a porta e é desarmado até a chegada da polícia e dos
bombeiros.
Denúncia do
MP
O MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) denunciou
o jovem de 18 anos por cinco homicídios consumados e outros
14 tentados com três qualificadoras: motivo torpe, meio cruel e recurso que
impossibilitou a defesa das vítimas.
Segundo o promotor de Justiça
responsável pelo caso, Douglas Dellazari, havia 40 pessoas no local no dia da
tragédia, sendo 21 funcionários e 19 crianças. Destes, 19 tiveram, de alguma
forma, “sua vida colocada em risco”, de acordo com o promotor.
Por esse motivo o MPSC denunciou o autor também por tentativas de homicídio.
Dessas 19 pessoas, oito eram adultos e 11, crianças. A denúncia foi enviada ao
Poder Judiciário nesta sexta.
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