A denúncia foi feita nesta segunda-feira (23) pelo vice-presidente de Finanças e Gestão da
FECOMÉRCIO/SC, Francisco Crestani, diretor da rede Super Vipi, com
supermercados em São Miguel do Oeste (SC) e Francisco Beltrão (PR).
No
áudio, o supermercadista denunciava o que ele chamou de abuso por parte das
indústrias, que estariam se aproveitando da pandemia.
A
denúncia chegou ao MPSC (Ministério Público
de Santa Catarina) que instaurou inquérito civil para investigar se
as indústrias catarinenses estão praticando aumento abusivo do produto.
Crestani
contou que gravou o desabafo após ter feito o levantamento do preço do leite
nas indústrias, atividade que ele realiza às segundas-feiras. “As três
indústrias que podiam atender o meu pedido apresentaram preços diferentes das
semanas anteriores e, pior, disseram que não entregariam os pedidos já em
carteira”, disse.
Não
entregar os pedidos em carteira significava que o supermercadista deveria fazer
outro pedido com os preços do dia, que variavam entre R$ 3,10 e R$ 3,80 –
dependo da indústria. Antes, os valores estavam entre R$ 2,10 e R$2,30, segundo
Crestani. “Não dá para aceitar o preço subir de R$ 2,20 para ‘3 e alguma coisa’
e isso logo nessa hora de tanta dificuldade, quando as crianças estão fora das
creches e das escolas e que tem que ter leite em casa para elas”, comentou.
Após
a repercussão do áudio do empresário, as indústrias voltaram atrás e entregaram
os pedidos feitos por ele anteriormente com os preços normais. “As indústrias
tentaram rebater o áudio, mas não conseguiram, pois tenho tudo gravado. Elas
podem ter combinado o preço do leite, mas não acertaram o discurso”, afirmou
Francisco Crestani, que também é vice-presidente de Finanças e Gestão da
Fecomércio (Federação do Comércio) e membro do Conselho Fiscal da Acats
(Associação Catarinense de Supermercados).
Em
nota, o presidente da Acats, Paulo Cesar Lopes, afirmou que, em muitos casos,
como o do leite, os supermercados são responsabilizados de maneira injusta pelo
aumento do preço. “Quem forma o preço não é o setor supermercadista, e sim a
cadeia anterior. O supermercado é o elo final da cadeia produtiva, é
repassador, então nosso papel é este e precisamos preservá-lo, cada um com sua
responsabilidade”, disse.
MP
quer saber se houve abuso
O
MPSC instaurou inquérito civil para investigar se as indústrias catarinenses
que produzem, distribuem e vendem leite no estado estão praticando o aumento
abusivo de preços do produto se aproveitando da situação de emergência
decorrente da pandemia do novo coronavírus.
De
acordo com a 29ª Promotoria de Justiça da Capital, que atua na área dos
Direitos do Consumidor e tem abrangência estadual, as indústrias tinham prazo
até ontem para responder às questões levantadas pelo procedimento com a remessa
dos documentos e notas fiscais que comprovem suas informações.
A
promotora de Justiça Analú Librelato Longo solicitou às empresas as notas
fiscais emitidas na quinzena anterior à edição do decreto que declarou situação
de emergência e as notas fiscais das operações efetuadas desde o dia 18 até
quarta-feira passada.
As
empresas também devem informar a produção diária de leite (integral,
semidesnatado e desnatado) no período anterior e após o decreto.
Sindileite
O
Sindileite (Sindicato das Indústrias de Laticínios de Santa Catarina) enviou
nota em que trata como uma “infeliz coincidência” o preço do leite ter subido
nesse período da pandemia do novo coronavírus.
De
acordo com o sindicato, o aumento do produto ocorre devido a vários fatores,
como a estiagem que afeta o Estado, o aumento do dólar, quarentena que
encareceu o preço do frete e o custo da produção.
“Os
preços do leite UHT vinham em uma curva de estabilidade de preços desde
novembro/19 a fevereiro/20, enquanto isso os custos da matéria prima (leite) no
mesmo período, subiram 10%, sem considerar os aumentos de outros insumos de
produção”, explicou o Sindileite.
A
nota também ressalta que “o leite UHT é um produto com variação semanal de
preços, tanto para cima quanto para baixo, e é altamente sensível ao nível de
produção no campo, diferentemente de outros lácteos que mantêm uma curva mais
estável”.
Produtores
A
ACCB (Associação Catarinense de Criadores Bovinos) divulgou nota para
esclarecer a “condição do produtor de leite do Estado em relação ao aumento do
leite para os consumidores”. Segundo a nota, devido ao preço mantido pelo
Conseleite (Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite) de Santa
Catarina ao produtor, a classe não recebeu “nada desse aumento que está sendo
repassado para o consumidor”.
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