Fora da corrida
mundial pela vacina contra covid, a multinacional americana Biogen tem luta
própria: colocar no mercado mundial, o quanto antes, um remédio contra a doença
de Alzheimer.
No início do mês, a
agência reguladora de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na
sigla em inglês) avaliou que o aducanumabe apresentou
evidências “excepcionalmente persuasivas”.
A expectativa é
pela aprovação do remédio em março. A companhia não quer se comprometer com
prazos para a entrega do remédio no Brasil, mas, levando-se em consideração os
trâmites normais do processo, que costuma demorar de 12 a 15 meses, tudo indica
que ele poderá estar disponível até o fim do primeiro semestre de 2022.
Se tudo continuar
seguindo a tendência positiva, será o primeiro tratamento para o mal em décadas
e o primeiro a sinalizar ser capaz de retardar sua progressão.
No comando da
empresa na América Latina há três meses está o escocês Fraser Hall, que até
então era CEO da britânica AstraZeneca no Brasil.
“A AstraZeneca é
uma companhia extraordinária, mas a minha grande paixão é a neurociência. E
neurociência é Biogen”, disse ele em entrevista ao Estadão, a
primeira que concedeu após a mudança.
“A descoberta [do
aducanumabe] foi muito emocionante. Se você tem Alzheimer, você não tem nada…
não há remédio, não há perspectiva. Acho que essa droga é extraordinária em
termos de dar alguma esperança em relação a essa doença devastadora.”
Hall também
considerou que, quando a medicação for aprovada, deverá haver mais entusiasmo e
mais investimentos no segmento.
No dia do parecer
inicial positivo da FDA, as ações da Biogen dispararam mais de 40% nos Estados
Unidos, único local onde a empresa é listada em Bolsa.
A avaliação do
mercado é a de que, se aprovado, o aducanumabe poderá representar vendas anuais
de cerca de US$ 5 bilhões até 2025.
Liberação
O executivo escocês
é responsável pelos escritórios de México, Colômbia, Brasil, Argentina e Chile
e acompanha também a distribuição dos medicamentos da Biogen em outros países
das Américas Latina e Central.
Ele lembrou que
algumas nações só fazem a liberação de novas drogas quando outros reguladores
já o fizeram, enquanto outras têm um processo independente.
“O Brasil, por
exemplo, não depende de nenhum outro país. A Anvisa revisa as informações
disponíveis [para tomar sua decisão]”, comparou o executivo, citando que a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária costuma ter dois processos: um caminho
mais rápido, que costuma levar em torno de nove meses, e um considerado normal,
que dura em torno de 12 meses, além de mais cerca de três meses de avaliação
pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único
de Saúde).
Tem sido uma “dura
jornada” a busca por uma medicação para o Alzheimer, conforme o diretor-geral
da Biogen Latam, principalmente em um momento em que todos os olhos do mundo
estão voltados para a descoberta de uma vacina contra a covid-19.
“Esperançosamente,
haverá mais drogas para o Alzheimer entrando no pipeline, mas, por enquanto, o
aducanumabe é o mais avançado sobre o qual se tem mais informação”, afirmou.
“Ele funciona. Acreditamos que ele funciona.”
Para expandir ao
máximo a distribuição do medicamento, Fraser mantém a proximidade com as
diferentes administrações da região.
“Esta doença é uma
questão de saúde pública, que afeta muitas e muitas pessoas diferentes e os
governos são realmente uma chave no longo prazo, então, estamos próximos dos
governos e das agências”, explicou.
O seu papel à
frente da farmacêutica na América Latina será o de expandir o portfólio de
ofertas da Biogen na região.
“Uma coisa que
queremos fazer é facilitar o acesso de nossos remédios aos pacientes na América
Latina.”
O executivo também
disse ter como meta ampliar a participação de cientistas latino-americanos no
quadro da empresa. Do lado dos negócios, no entanto, não está prevista a
abertura de novos escritórios na região nem do capital da companhia.
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