As eleições deste ano vão marcar a história política do Brasil por terem sido realizadas sob a carga pesada da Covid-19 e todos os limitadores que essa doença trouxe para nosso cotidiano. Primeiro que não foi possível manter aglomeração, o que restringiu os atos políticos e, segundo, porque assistimos os meses do ano transcorrerem de maneira veloz quanto o coronavírus se espalhava pelo mundo.
O que a pandemia impactou nesta votação é algo que podemos começar a avaliar com base nos dados levantados antes do pleito começar. Dados apurados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que 182 municípios estavam com taxas acima da média nacional em relação à letalidade da doença e a incidência de casos por 100 mil habitantes. Deste total, 50 candidatos à prefeitura da cidade tentavam uma reeleição.
Agora que temos o resultado da votação em todos esses municípios, podemos ter um olhar mais claro sobre essa questão, pois 30% dos candidatos foram reeleitos, sendo dois sub judice, e um não reeleito, mas, também, sub judice. Isso significa que 60% daqueles 50 prefeitos conseguiram se manter na cadeira política. Aqui vale esclarecer que “sub judice” é uma expressão em latim que significa "em julgamento", o que indica um caso ou processo em particular sendo julgado ou está aguardando por uma decisão do juiz.
De certa forma, os resultados preliminares dessa votação colocam à mesa do jogo político, uma série de cartas na forma de opiniões do eleitorado a respeito da posição que os candidatos adotaram em meio à pandemia. E, como explica o cientista político Nauê Bernardo, apesar de ser um ponto a se avaliar, não é possível afirmar categoricamente que esse processo eleitoral foi uma espécie de referendo a respeito das medidas de combate à Covid-19 por parte dos gestores que pretendiam se reeleger.
O cientista político afirma que existem outros fatores a serem observados em um pleito deste tipo. “O que parece realmente é que os políticos locais entenderam que essa é uma pauta bastante sensível e muitos daqueles que prometeram continuar com as mesmas medidas ou até arrojar no combate à pandemia, acabaram tendo essa aprovação nas urnas. Mas é preciso levar em consideração o conjunto do trabalho, e em uma eleição municipal tão importante quanto essas questões macro, são as questões micro. O eleitor vai olhar para ver se a rua está asfaltada, se a cidade está bem tratada e isso é importante de ser levado em consideração”, destacou.
A forma como cada candidato ou gestor público agiu do começo do ano até agora pode ser um dos fatores que contribuem para ganho de votos ou a perda, mas existem outros pontos que o eleitor analisa. É preciso compreender como o município estava preparado para combater a pandemia, pois de acordo com o médico infectologista, Hemerson Luz, esse tipo de impacto nas urnas é provocado por uma reação em cadeia.
“Uma pessoa de um município que precisa de um leito de UTI e não consegue, vai ter um impacto direto na letalidade [que a doença causa no município]. Essa pessoa pode vir à óbito porque não conseguiu, a tempo, o cuidado intensivo que estava precisando. Isso vai sensibilizar aquela família, aquela comunidade a qual pertence a pessoa. Além da taxa de letalidade, os eleitores vão encarar como foram as políticas públicas para a saúde”, descreveu o médico.
No próximo dia 29, último domingo deste mês, será realizado o segundo turno das eleições. Vale lembrar algumas orientações de segurança contra a Covid-19 como levar sua máscara, manter distância de, pelo menos, um metro e meio da outra pessoa, além de higienizar as mãos.
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