Documentos da
Justiça de Santa Catarina detalham como agiam os presos
pela Operação Alcatraz, da Polícia e Receita Federal. Onze
pessoas, entre empresários e agentes públicos são investigados por
suspeita de envolvimento no esquema de fraude em licitações e contratos. A PF
estima danos aos cofres públicos de quase R$ 30 milhões.
As prisões ocorreram durante os trabalhos realizados na quinta-feira
(30), sendo que nove ocorreram na Grande Florianópolis, uma em Ituporanga, no
Vale do Itajaí, e uma em Vinhedo (SP). O inquérito revela como o esquema
começou e quem são os principais suspeitos.
Presos
Os documentos mostram o despacho da juíza federal substituta Janaina
Cassol Machado, da 1ª vara Federal de Florianópolis, que decretou a prisão dos
suspeitos envolvidos com o suposto esquema na Secretaria Estadual de
Administração (SEA) e Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de
Santa Catarina (Epagri).
Temporários
Luiz Carlos Maroso (servidor da
SEA/ gerente): suspeito de receber propina, operacionalizar o sistema de
fraudes em licitações;
Renato Deggau (servidor da SEA/
gerente): suspeito de manipular provas;
Edson Nunes Devicenzi (servidor da
SEA/ gerente): suspeito de repasse em associação com o empresário Maurício
Barbosa;
Fábio Lunardi (servidor da Epagri/
agente de TI): suspeito de fraudar licitações.
Preventivos
Nelson Nappi Junior (ex-adjunto da
SEA);
Michelle Oliveira Silva Guerra;
Danilo Pereira;
Maurício Rosa Barbosa (empresário);
Flávia Coelho Werlich;
Fabrício José Florêncio;
Luiz Ademir Hessmann (ex-presidente
Epagri).
Investigação
A investigação começou quando o Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf) identificou grandes diferenças entre a receita bruta e a
movimentação financeira da MABB, empresa de atividade publicitária.
Segundo a investigação, a partir de 2012 essa empresa passou a ser
contratada pela Montesinos que pertence ao grupo Ondrepsb e presta serviço de
mão de obra terceirizada para o sistema prisional do estado.
As diferenças entre movimentação e receita da MABB chegam a milhões de
reais. No despacho, a juíza substituta Janaína Cassol destaca que além de a
natureza da Montesinos não demandar publicidade, até 2011 a empresa tinha um
gasto mínimo com publicidade que saltou repentinamente a partir de 2012.
Em depoimento à Receita Federal, João Buatim, sócio da MABB admitiu o
esquema afirmando que emitia notas fiscais sem a efetiva prestação de serviços
para as empresas dos grupos Ondrepesb e também Orcali, do mesmo ramo de mão de
obra terceirizada, e acrescentou ainda que essas notas eram necessárias para
que os donos das empresas pudessem repassar dinheiro vivo para agentes públicos
do estado.
Esse dinheiro para agentes públicos é apontado pela investigação como
indício de pagamento de propina. A investigação cita pregões de contratação
emergencial, quando há dispensa de licitação para contratar serviços da
Ondrepsb e da Orcali.
Nelson Castello Branco Nappi Junior é considerado no documento o
epicentro da organização. Ele era Secretário Adjunto da Secretaria de
Administração e autorizava a dispensa de licitação, além de fazer a ligação
entre os empresários e os agentes públicos.
Nelson é um dos onze presos ontem pela Operação Alcatraz. A investigação
traz que ele era apadrinhado por Julio Garcia, atual deputado e presidente da
Assembleia Legislativa (Alesc). Julio também foi alvo de busca e apreensões
pela Polícia Federal.
O nome do deputado aparece no despacho como beneficiário de veículos de
propriedade da empresa Apporti, que ganhou um pregão no valor de R$ 664.998,80
para gestão de linhas telefônicas do estado. O único dono da empresa, segundo a
investigação, é Jefferson Rodrigues Colombo, genro da ex-mulher de Júlio.
Ainda segundo a investigação, o salário do motorista particular de Júlio
teria sido pago pela Apporti entre 2010 e 2016. Inclusive, um veículo adquirido
pelo deputado foi colocado em nome do motorista.
Os documentos apontam ainda que os seguros dos carros das filhas de
Júlio eram pagos pela empresa e dois veículos usados por ele também eram de
propriedade da Apporti. O documento ainda cita irregularidades em imóveis que
seriam usados pelo deputado, mas que estariam em nome de terceiros.
A investigação da Polícia Federal conclui, enquadrando a conduta do
presidente da Alesc como abre aspas "crime de corrupção passiva e um crime
de lavagem de dinheiro em concurso material".
A irmã dele, Lucia de Fátima Garcia era secretária de Nelson na
Secretaria de Administração. Atualmente, Nelson era diretor de tecnologia da
Alesc e Lucia secretária adjunta da prefeitura de Florianópolis. Os pedidos de
afastamento feitos pela Justiça foram atendidos e os dois foram exonerados dos
cargos.
Entre os crimes que a Polícia investiga no caso de Nelson Castello
Branco Nappi Junior estão: fraude licitatória, corrupção e lavagem de dinheiro,
evidenciando a existência de organização criminosa.
Defesas
A defesa de Nelson Castello Branco Nappi Júnior entende que não há
motivos para a prisão, pois tudo indica que seriam fatos ocorridos no passado
referentes ao governo, e que o Nappi não exerce mais nenhuma função no
executivo. A defesa informou que entrou com um pedido de habeas corpus.
O presidente da Alesc, Júlio Garcia, disse em nota que desconhece
inteiramente as razões pelas quais teve o seu nome envolvido nas investigações,
e assim que tiver acesso aos autos vai prestar as informações necessárias.
A empresa Ondrepsb informou que só vai se manifestar quando tiver acesso
a toda a investigação. A reportagem não conseguiu contato com as empresas
Orcali e Mabb.
A prefeitura de Florianópolis informou que exonerou a servidora Lucia Fatima Garcia hoje, após comunicado da Justiça Federal. E destacou que as suspeitas de envolvimento de atos irregulares não tem nada a ver com a administração municipal.
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