Um estudo que
envolveu pesquisadores do Brasil e do Reino Unido mostra que o novo coronavírus
(covid-19) já circulava no país antes da adoção de medidas de isolamento
social. Para fazer a análise, o grupo identificou 427 genomas do vírus no
Brasil a partir dos dados de 7,9 mil amostras de laboratórios públicos e
privados. O trabalho foi publicado na plataforma medRxiv e ainda não passou
pela revisão da comunidade científica.
O estudo
identificou que entre 22 e 27 de fevereiro, três tipos do vírus, provavelmente
vindos da Europa, estavam presentes no país e conseguiram se estabelecer antes
das medidas para restringir o contágio. O primeiro caso no Brasil foi
confirmado em São Paulo, no dia 24 de fevereiro, em um homem que tinha voltado
de viagem à Itália. As primeiras medidas de isolamento social só foram adotadas
no estado a partir de 16 de março, e a quarentena, com fechamento dos serviços
não essenciais, em 24 de março.
O trabalho também
mostra que as medidas de isolamento social conseguiram reduzir a disseminação
da doença no país. Para avaliar esse impacto, os pesquisadores cruzaram o
número de mortes diárias com dados sobre o deslocamento da população fornecidos
pela empresa de geolocalização InLoco e pelo Google.
Apesar dos efeitos
positivos da quarentena, o estudo mostra que com a queda na adesão ao
isolamento social em São Paulo, houve também um aumento na velocidade de
transmissão da doença.
A pesquisa mostra
ainda que as viagens dentro do Brasil tiveram um papel importante para que o
coronavírus circulasse entre as diferentes regiões do país. Segundo o artigo,
as “altamente populosas e bem conectadas áreas urbanas do Sudeste agem como
principais fontes de exportação do vírus dentro do país”, apontam os
pesquisadores após analisar também as distâncias médias das viagens de avião no
período da pandemia.
Assinam o trabalho
pesquisadores ligados a 44 instituições no Brasil e no Reino Unido. Entre eles,
está o grupo do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo e da Universidade de Oxford, da Inglaterra, que em
fevereiro fizeram o primeiro sequenciamento genético do coronavírus na América
Latina.
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