Ex-presidente do Comitê Olímpico é condenado por corrupção na escolha do Rio como sede olímpica em 2016

29/11/2021 - 14h21

Em denúncia do Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal condenou o ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman a 30 anos, 11 meses e 8 dias por corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Além dele, no mesmo processo, foram condenados o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (dez anos e oito meses) e o ex-diretor de operações da Rio-2016 Leonardo Gryner (13 anos e 10 meses). (Ação Penal 0196181-09.2017.4.02.5101).

A condenação é resultado da Operação Unfair Play, em que as investigações revelaram que em agosto de 2009 - pouco mais de um ano após o Comitê Olímpico Internacional anunciar as quatro cidades que concorreriam para sediar os jogos de 2016 e há cerca de dois meses para o anúncio final -, Nuzman, Gryner e Cabral se encontraram com Lamine Diack durante o Mundial de Atletismo de Berlim, oportunidade em que o senegalês indicou seu filho para tratar de pagamentos por “patrocinadores”.

No final de agosto, Gryner foi apresentado por Cabral a Arthur Soares, conhecido como “Rei Arthur”, aproximando-os para acertar o pagamento aos Diack. Em setembro de 2009, aconteceu em Paris o episódio que ficou conhecido como “Farra dos Guardanapos”, que contou com a participação de vários integrantes da organização criminosa chefiada por Cabral, inclusive Nuzman. Dez dias depois, foi feita a primeira tentativa de depósito dos valores acordados entre Cabral, Soares, Nuzman, Gryner e Diack, por meio de transferência bancária feita a partir da conta Matlock, de Arthur Soares. A transferência foi rejeitada pelo banco por não haver razão econômica para o pagamento.

No final de setembro, foi feita nova tentativa de transferência do pagamento a partir da conta Matlock, desta vez bem sucedida. Em 2 de outubro, o Rio foi anunciado como cidade-sede da Olimpíada de 2016. Em dezembro de 2009 e fevereiro de 2010, Diack encaminha uma série de mensagens para Nuzman e Gryner cobrando o restante dos pagamentos devidos aos seus amigos, o que indica que houve distribuição de vantagens indevidas a outros africanos. Foram registradas transferências bancárias de outros patrocinadores para Pamodzi Consulting no fim de 2009 e início de 2010. Já em dezembro de 2016, Nuzman e Gryner concedem ao LSH Barra Hotel, da qual Arthur Soares é sócio, o perdão da multa contratual e desconto de 30% sobre o valor que o hotel deveria devolver por ter descumprido acordo firmado como o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016.

Durante o trâmite processual, em seu interrogatório, o ex-governador Sérgio Cabral confirmou a prática do ato de corrupção para compra de votos que garantissem a eleição do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. De acordo com o ex-governador, a iniciativa de procurá-lo para tratar da realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro partiu de Nuzman, que juntamente com Gryner, o informou que Lamine Diack, membro do COI, estaria disposto a receber vantagens indevidas em troca de conseguir 5 ou 6 votos na primeira fase. Na ocasião, Nuzman manifestou que não comprar os votos seria correr o risco de não ter o Rio de Janeiro escolhido como cidade-sede.

Patrimônio não-declarado - No período de 2007 a 2017, Carlos Nuzman ampliou seu patrimônio em 457%, não havendo indicação clara de seus rendimentos. Para o juiz Marcelo Bretas, ao proferir a sentença, Nuzman, “de modo consciente e voluntário, ocultou e dissimulou a propriedade e a origem de 16 quilos de ouro, no valor de R$ 1.495.437,63, provenientes de crimes de corrupção, organização criminosa e peculato, bem como promoveu sua conversão em ativos lícitos, razão pela qual incorreu em atos de lavagem de dinheiro descritos no art. 1o, caput, c/c §1o, I, ambos da Lei no 9.613/98, na forma do art. 71 do CP. Além disso, por manter depositadas em cofre na Suíça, entre os anos de 2014 e 2016, divisas não declaradas à repartição federal competente, consistentes em 16 quilos de ouro em barras, no valor de USD 678.080,00”, incorreu no tipo previsto no art. 22, parágrafo único, segunda parte, da Lei no 7.492/86.

Cronologia dos fatos – Em outubro de 2017, a Operação Unfair Play revelou a compra de votos para a escolha da sede olímpica de 2016, envolvendo o então presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, e do seu braço-direito Leonardo Gryner. Eles foram responsáveis por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI, o que foi efetivamente feito por meio do “Rei Arthur”.

Na época, como patrimônio não-declarado, Nuzman ampliou o patrimônio em 457% em 10 anos, não havendo indicação clara de seus rendimentos, além de manter parte de seu patrimônio oculto na Suíça.

A Operação Unfair Play foi resultado do trabalho conjunto de cooperação internacional entre os órgãos de persecução do Brasil, da França, da Antígua e Barbuda, dos Estados Unidos e do Reino Unido, que permitiu que viessem a público os bastidores da escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Vasta documentação e provas robustas revelaram que a organização criminosa de Cabral comprou o voto do presidente da Federação Internacional de Atletismo, Lamine Diack, por 2 milhões de dólares.

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