Em razão da
pandemia, o Censo demográfico que seria realizado em 2020 precisou ser adiado
para este ano. No entanto, a pesquisa que levanta dados populacionais do Brasil
foi cancelada em 2021 por falta de orçamento.
Inicialmente
estavam previstos R$ 2 bilhões para realização da pesquisa, mas, durante a
tramitação da Lei Orçamentária Anual (LOA) no Congresso Nacional, a verba
destinada foi de apenas R$71 milhões. Diante disso, o secretário especial de
Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, confirmou a inviabilidade
para realizar o Censo deste ano.
"Não há
previsão orçamentária para o Censo, portanto ele não se realizará em 2021. As
consequências e gestão para um novo Censo serão comunicadas ao longo desse ano,
em particular em decisões tomadas na Junta de Execução Orçamentária",
afirmou Rodrigues durante coletiva de imprensa sobre a LOA.
O Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) informou que não tem estratégias para realizar a pesquisa em
outro formato neste ano e que os R$71 milhões serão usados nos preparativos do
Censo para 2022.
O Censo
é uma pesquisa que deve ser realizada a cada 10 anos pelo IBGE, como determina
a Lei 8.184/1991. O levantamento realiza uma ampla coleta
de dados sobre a população brasileira e permite traçar um perfil socioeconômico
do país. Os pesquisadores do órgão visitam os domicílios e entrevistam os
moradores para obter dados sobre nível de estudo, trabalho, condição de vida,
saúde, entre outras informações.
Por lei, toda a
população é obrigada a fornecer informações ao IBGE, que garante o sigilo. Os
dados são utilizados em programas e projetos que vão contribuir para orientar
investimentos e subsidiar políticas implementadas pelas três esferas de
governo.
Para o consultor da
área de estudos técnicos da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Eduardo
Stranz, a não realização do censo é um fato grave, pois grande parte dos
repasses aos municípios relativos às áreas de educação, saúde, assistência
social, programas federais, convênios de estados e número populacional partem
da estatística do Censo. A expectativa é que o Congresso Nacional volte atrás
da decisão que cortou R$1.76 bilhão do orçamento.
“Achamos que
a não colocação do recurso relativo ao Censo no orçamento geral da União foi um
erro do Congresso Nacional, e estamos mobilizados, conforme a nota que nós
divulgamos, para que o congresso corrija esse equívoco e aporte os recursos
necessários para a realização do Censo”, diz.
Ainda de acordo com
Stranz, é obrigação do governo realizar o estudo demográfico para a gestão dos
municípios. “Não é uma decisão discricionária do Congresso Nacional e do
governo federal realizar ou não o Censo, é uma obrigação. Esperamos que tudo
corra bem, na maior brevidade possível para que se realize a pesquisa.”
As informações do
Censo trazem aos estados e municípios dados que ajudam no desenvolvimento e
implementação de políticas públicas para realização de investimentos e
resoluções. O prefeito de Pirassununga (SP), Milton Dimas Urban, afirma que o
estudo demográfico auxilia na tomada de decisões. “O Censo é um mapa que você
tem das pessoas e das condições com que elas vivem no município e quais
programas pode-se criar para melhorar as falhas na região. Com ele eu sei quais
são os problemas prevalentes na cidade.”
O primeiro Censo
Demográfico brasileiro foi feito em 1872 e, desde 1920, tem sido realizado a
cada 10 anos, nos anos terminados em zero. Apenas três exceções que
inviabilizaram a pesquisa em 1930, 1990 e 2020.
Para o economista e
professor de políticas públicas do Ibmec, Jackson de Toni, em vista da
Revolução, seria possível adaptar e fazer a pesquisa demográfica em 2021.
“Nesse ano, nada justificaria adiar o Censo. Nós nos juntamos com essa
defasagem a países que estão há mais de 11 anos sem informações estatísticas
oficiais, como o Afeganistão, o Congo, a Líbia, o Haiti, ou seja, países que
estão em guerra. A pandemia é até um motivo a mais para garantir verba para o
Censo”, conclui.
Censo de 2021
O Censo Demográfico
2021 seria a maior operação de recenseamento já organizada no país pela
Instituição. Mais de 212 milhões de habitantes, aproximadamente 71 milhões de
endereços seriam visitados em 5.570 municípios. Os 26 Estados e o Distrito
Federal contariam com 560 agências do IBGE, 6.100 postos de coleta municipais e
1.450 coordenações regionais.
Seriam utilizados
5.570 mapas municipais, 30.000 mapas de cidades, vilas e localidades e mais de
420 mil arquivos digitais e impressos dos setores censitários para orientar os
recenseadores nas áreas de trabalho.
A previsão era de
que mais de 230 mil pessoas fossem contratadas, temporariamente, para os
trabalhos de coleta de dados, supervisão, apoio técnico-administrativo e
apuração dos resultados. Porém, devido ao cancelamento do Censo deste ano, o
processo seletivo dos censitários – Recenseador, Agente Censitário Municipal
(ACM), Agente Censitário Supervisor (ACS), também foi interrompido. O IBGE
informou que vai anunciar, assim que possível, as orientações referentes à suspensão
das provas e à devolução das taxas de inscrição.
Orçamento de 2021 teve cortes de quase R$30 bilhões
A Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021 foi
sancionada, com vetos, pelo presidente Jair Bolsonaro. O orçamento da União
prevê despesa total neste ano de R$4.324 trilhões. Os vetos presidenciais somam
R$19.7 bilhões, e mais bloqueio adicional de R$ 9,3 bilhões em despesas
discricionárias, que podem ser liberadas no decorrer deste ano. Os maiores
bloqueios foram nos ministérios da Educação (2.7 bi), Economia (R$ 1.4 bi) e
Defesa (R$ 1.3 bi).
Também houve vetos
a emendas parlamentares, sendo R$ 10.5 bilhões do tipo emenda de relator e R$
1.4 bilhão de comissões do Congresso.
O Orçamento de 2021
tem R$1.656 trilhão em despesas obrigatórias. Também inclui orçamento
impositivo de despesas discricionárias de R$9.7 bilhões de emendas individuais
e R$7.3 bilhões de emendas de bancada. Cada parlamentar apresentou
individualmente emendas no valor de R$16.3 milhões, sendo que metade do
quantitativo se destina à Saúde.
As despesas com
Previdência chegam a R$698.5 bilhões, e os gastos com pessoal, R$363.6 bilhões,
incluindo despesas com inativos e pensionistas do setor público. Os recursos
para investimento chegam a R$144.4 bilhões, sendo que R$133.137 bilhões vão
para o Ministério de Minas e Energia.
O economista e professor
de políticas públicas do Ibmec, Jackson de Toni, salienta que as verbas da LOA
podem ser realocadas para que o Censo deste ano aconteça. “Essa verba é
possível ser realocada, com certeza, de outras áreas do governo. Até porque o
Censo está inovando na forma de coleta, o IBGE combina coleta presencial, com
informações por outros meios, usando a internet e o telefone. É muito ruim para
o país ficar sem o Censo, nos joga numa insegurança estatística terrível que
vai afetar a qualidade e a produção das políticas públicas.”
STF determina realização do Censo de 2021
Na última
quarta-feira (28) o ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF),
deferiu liminar determinando ao governo federal que adote medidas voltadas à
realização do censo demográfico de 2021 pelo IBGE.
O ministro atendeu
ao pedido liminar feito pelo governo do Maranhão, que alegou omissão da União
na alocação de recursos para realização do censo. Segundo Marco Aurélio, a
Constituição obriga a realização do levantamento de dados.
“A União e o IBGE,
ao deixarem de realizar o estudo no corrente ano, em razão de corte de verbas,
descumpriram o dever específico de organizar e manter os serviços oficiais de
estatística e geografia de alcance nacional – artigo 21, inciso XV, da Constituição
de 1988. Ameaçam, alfim, a própria força normativa da Lei Maior”, é o que diz a
Ação Cível Originária (ACO) 3508.
O IBGE disse que “por enquanto, não vai comentar a
decisão do STF”.
Também por meio de nota, a CNM comemora a medida, “visto que a
realização do Censo deve ser uma prioridade para o país, diante do grande
impacto que provoca. O Censo é a mais importante radiografia do Brasil, e os
indicadores demográficos e socioeconômicos produzidos orientam investimentos e
subsidiam políticas implementadas pelas três esferas de governo”.
Segundo o
economista Jackson de Toni, a não realização do estudo demográfico pode
prejudicar acordos internacionais no país. “O Brasil é signatário de vários
acordos e vários compromissos mundiais que exigem ter informações estatísticas
confiáveis, atualizadas, independentes e isentas. E o Brasil tem o IBGE para
fazer isso, felizmente”.
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