Semana passada a
NASA divulgou sua imagem mais recente do planeta Júpiter. Desde 2014 a agência
espacial norte-americana vem fazendo imagens frequentes dos gigantes gasosos do
Sistema Solar. O programa, chamado de legado dos planetas exteriores, tem por objetivo
monitorar a dinâmica da alta atmosfera de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno com
uma foto por ano, pelo menos.
Imagens desses planetas existem já há mais tempo do que isso,
especialmente de Júpiter e sua Mancha Vermelha gigante. Na imagem divulgada na
semana passada ela está em grande destaque, como você pode ver logo abaixo e,
talvez por isso, a informação mais importante que a imagem nos mostra foi
negligenciada: a Grande Mancha Vermelha continua encolhendo.
A Grande Mancha Vermelha de Júpiter é um poderoso furacão que já dura
mais de 300 anos, mas ela deve ser ainda mais antiga. A primeira descrição de
uma mancha vermelha em Júpiter foi feita por Robert Hooke em 1664, mas é bem
provável que essa mancha não seja a mancha “atual”. Hooke a descreveu como
estando no hemisfério norte, mas desde 1665 ela é vista no hemisfério sul. Quem
descobriu a mancha “certa” foi o astrônomo italiano Giovanni Cassini.
A mancha é um grande furacão que abre um vórtice na alta atmosfera e
expõe camadas inferiores das nuvens de Júpiter. Essas camadas têm composição
química e temperaturas diferentes, por isso sua cor característica de laranja
tijolo. A base desse furacão está em algo como 1.200 km abaixo da superfície
visível das nuvens. Isso dá mais ou menos 100 vezes mais profundo do que o mais
profundo que se pode chegar em um oceano na Terra.
Desde 1830 a mancha vem sendo monitorada ininterruptamente e a cada ano
ela encolhe um pouco. Ou muito em se tratando de Júpiter. Eu me lembro que há
uns 20 anos eu falava que caberiam entre 2 e 3 Terras na mancha. Essa última
imagem do Hubble mostra que agora só caberia uma!
Ninguém sabe o que se passa na atmosfera profunda que possa estar
causando essa perda de energia na mancha de modo a fazer com que o furacão
perca força. A sonda Juno, que recentemente ganhou uma extensão em sua missão
de estudar Júpiter, tem instrumentos em micro-ondas que podem registrar o
comportamento da atmosfera, medindo sua temperatura por exemplo, até mais ou
menos 10 km de profundidade. Isso significa que não temos muitos elementos para
fechar uma explicação plausível.
Ao que parece esse encolhimento é um processo cíclico e, ao longo dos
quase 200 anos de monitoramento contínuo, ela passou por momentos mais
majestosos e outros mais humildes de tamanho reduzido. Antes de 1830, há
períodos em que ela não é mencionada nas observações, indicando que ela pode
ter desaparecido durante um tempo para retornar depois. Todavia, os registros
dessa época não são muito precisos, é possível que ela estivesse e ninguém
tenha mencionado justamente porque ela sempre esteve lá.
De todo modo, se o atual nível de encolhimento se mantiver, é bem
possível que em menos de 20 anos ela se torne uma mancha bem menor e circular,
ao invés da forma ovalada atual. Isso se não acontecer antes, pois agora em
2019 começou-se a ver que a mancha está se “despedaçando” pelas beiradas. Ainda
não houve tempo para avaliar se esse processo continuará ou se é apenas um
evento esporádico, mas a persistir, pode ser que a Grande Mancha Vermelha
encolha mais rapidamente, podendo até a desaparecer.
Tomara que não, né? Consegue imaginar Júpiter sem a Grande Mancha
Vermelha? Para mim é um golpe tão duro quanto Saturno perder os anéis.
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