Médicos britânicos
recomendaram a devolução de 250 respiradores da marca Aeonmed, modelo Shangrilá
510S. Segundo os profissionais, o equipamento não é adequado para uso em UTIs e
pode levar pacientes da Covid-19 à morte devido à baixa capacidade. A marca e o
modelo são os mesmos adquiridos pelo governo catarinense na polêmica dispensa
de licitação que culminou com a queda do
secretário da Saúde Helton de Souza Zeferino.
No entanto, segundo
documentos incluídos posterior a efetivação da compra no processo, o modelo
brasileiro tinha um diferencial que seria uma miniestação acoplada, diferente
dos equipamentos reprovados pelos intensivistas ingleses.
A informação foi
divulgada pela rede americana NBC News, que teve acesso ao laudo dos médicos
após análise dos equipamentos.
“Acreditamos que,
se usado, é provável que haja danos significativos ao paciente, incluindo a
morte”, diz trecho da carta escrita pelos médicos. “Estamos ansiosos para a
retirada e substituição desses ventiladores por dispositivos mais capazes de
fornecer ventilação em terapia intensiva para nossos pacientes”, completam os
profissionais.
Os equipamentos da
Aeonmed não eram a preferência no processo de dispensa de licitação da
Secretaria de Saúde. Quando o negócio foi fechado, em 26 de março, o modelo
escolhido havia sido o Medical C3, da empresa CIMA, com sede no Panamá. Na
proposta inicial, os 200 respiradores custariam os mesmos R$ 33 milhões da
proposta de licitação.
No entanto,
curiosamente, a empresa Veigamed, que foi a escolhida para intermediar a
compra, anunciou a troca de modelos pelo Shangrilá, que total custaria R$ 12
milhões, bem abaixo do valor contratado.
Em comunicado
enviado à Secretaria de Saúde, o CEO da Veigamed, Pedro Nascimento, afirmou que
a troca de modelo foi acertada com o secretário Helton de Souza Zeferino, mas
não há em todo o processo documento que ponte para essa negociação.
Questionado, ele não informou como foi essa troca de modelo.
Pistas no processo
de dispensa de licitação apontam que a intenção seria desde o início trazer os
modelos Shangrilá. Prova disso estão nas duas propostas de orçamento fraudadas
e incluídas no processo. Apesar de elas informarem que os orçamentos eram para
o modelo Medical C3, as imagens que apareciam nas propostas eram exatamente do
modelo Shagrilá 510S.
Se não bastasse, os
equipamentos que deveriam ser entregues em duas etapas, a primeira carga com
100 respiradores em 7 de abril e a outra em 30 de abril, até hoje não chegaram
ao estado. Os R$ 33 milhões, valor bem acima do valor de custo dos
equipamentos, já foi pago à Veigamed e a Justiça mandou bloquear os valores.
Respiradores catarinenses
variam entre R$ 2 mil e R$ 20 mil
Esta semana, o
Congresso deve votar o projeto de lei do deputado Carlos Chiodini (MDB) que
autoriza, em regime extraordinário, qualquer empresa com condições técnicas,
independentemente de seu objeto social, de fabricar respiradores para a
pandemia.
Em Santa Catarina,
pelo menos três empresas já estão produzindo esses equipamentos. Uma delas é a
WEG, empresa de energia, que informou direcionar a sua linha de produção para
fazer respiradores licenciados pela Leitsung, que já produz esses equipamentos.
A capacidade de produção da WEG é de 50 respiradores por dia.
As outras duas
empresas, que seriam beneficiadas pelo projeto de lei apresentado por Chiodini,
são a Autom, de Santa Cecília, que já teve “sinal verde” e está na fase final
de apresentação de documentos, e a Bold, de Jaraguá do Sul, que recentemente
teve os testes clínicos do equipamento aprovados, restando apenas a aprovação
técnica da Agência.
O senador Dário
Berger (MDB) tem articulado com a Anvisa a liberação das licenças necessárias
para a comercialização dos equipamentos.
A Bold, segundo a
empresa, pode fabricar até 400 aparelhos por dia. Embora o aparelho
desenvolvido pela Bold, não seja aquele completo de UTI, pode ser usado em 93%
dos casos de Covid-19, e o preço gira em torno de R$ 20 mil.
Já os engenheiros
do AUTOM de Santa Cecília, informaram que podem produzir 50 equipamentos por
dia ao preço final de R$ 2 mil.
“Diversas pessoas
estão morrendo por falta de ventiladores no Brasil. O caso mais visível é o de
Manaus. Empresas brasileiras têm produtos bons, acessíveis, eficazes e com
preço mais baixo que os importados, e que já passaram por todos os testes
clínicos e técnicos. Estamos propondo a flexibilização e simplificação dos
processos de cadastro da empresa como fornecedora de insumos de saúde”, afirma
Chiodini.
A fabricação de
respiradores vem sendo um dos maiores desafios no combate ao coronavírus.
O aparelho é usado para ajudar pacientes que apresentem insuficiência
respiratória, um dos sintomas mais comuns da Covid-19, doença causada pelo
vírus, e esses equipamentos são essenciais para manter o aparelho respiratório
funcionando enquanto o vírus é tratado.
Entenda o caso
A denúncia sobre a
compra do governo do Estado de respiradores fantasmas por R$ 33 milhões junto à
empresa Veigamed, do Rio de Janeiro, foi publicada por meio de reportagem do
site The Intercept Brasil, na terça-feira (28).
Conforme a
denúncia, o governo de Santa Catarina levou cinco horas para decidir comprar,
receber uma proposta e confirmar a aquisição de 200 respiradores.
Os aparelhos, que
deveriam ter sido entregues no início de abril, em 48 unidades de saúde do
Estado, não chegaram.
Cada respirador
custou R$ 165 mil – valor bem acima dos R$ 60 mil a R$ 100 mil pagos pela União
e por outros Estados.
Na quarta-feira
(29), o governador Carlos Moisés disse ter aberto uma sindicância e afastado a
servidora responsável pela compra.
No mesmo dia, a
Alesc abriu uma CPI para investigar a compra dos respiradores. Os deputados
também pediram o afastamento do então secretário da Saúde Helton de Souza
Zeferino.
Ministério Público
de Santa Catarina e Ministério Público de Contas anunciaram que também vão investigar
o processo de compra.
Ainda na
quarta-feira (29), a Justiça determinou o bloqueio de R$ 33 milhões pagos pelo
governo para a Veigamed.
Na quinta-feira
(30), o empresário Rafael Wekerlin denunciou pedido de propina de R$ 3 milhões.
Ele encaminhou orçamento ao governo para compra emergencial e disse que sua
proposta foi copiada e usada pela Veigamed.
No final do dia, o
então secretário de Estado da Saúde, Helton de Souza Zeferino, deixou o cargo.
O pedido de exoneração foi aceito pelo governador Carlos Moisés.
>>>Clique e receba notícias do JRTV Jornal Regional diariamente em seu WhatsApp.
DEIXE UM COMENTÁRIO
Facebook