Um estudo realizado
por pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, concluiu que as
mulheres têm uma resposta imunológica mais eficiente ao novo coronavírus do que
os homens.
A pesquisa foi
publicada nesta quarta-feira (26) na revista científica Nature, que é uma das
mais conceituadas do mundo.
Conduzida por cientistas de vários países, inclusive brasileiros, o estudo analisou 98 pacientes (47 homens e 51 mulheres), com média de 60 anos, e identificou que elas desenvolveram uma resposta mais eficiente das células T, aquelas que estimulam a produção de anticorpos ou destroem diretamente as células infectadas pelos vírus, entre eles, o Sars-CoV-2, impedindo a propagação da infecção. Com isso, as mulheres desenvolvem menor número de casos graves de Covid.
“Os homens desenvolvem mais respostas inflamatórias de citocinas do que as mulheres no início da Covid-19. Além disso, elas apresentam melhor imunidade às células T do que os homens”, afirmou a imunologista Akiko Iwasaki, líder da pesquisa da Universidade de Yale ao Estadão.
As respostas
inflamatórias envolvem reações do sistema imunológico que causam o que é
conhecido como “tempestade de citocinas” no corpo. Grosso modo, as citocinas
são proteínas que estimulam o sistema imunológico.
No estudo, os
cientistas perceberam que elas estavam elevadas em todos os pacientes com
Covid-19 em relação a quem não tinha a doença (grupo controle). “E os homens
tiveram mais citocinas do que as mulheres”, disse Akiko.
Diferenças hormonais
Os pesquisadores
alertaram que o quadro grave de uma doença não está relacionado apenas ao
funcionamento do sistema de defesa do corpo. Existem diferenças hormonais e
comportamentais que podem ser associadas aos quadros mais graves. A pesquisa
procura caracterizar apenas a resposta imune de homens e mulheres. O estudo
também não ofereceu uma razão para essas diferenças.
Mesmo assim, o
estudo oferece uma contribuição importante para um cenário que intriga os
cientistas desde o início da pandemia: os homens mais velhos, acima de 60 anos,
têm maior risco de adoecer e morrer do que as mulheres da mesma idade.
Isso se reflete nas
estatísticas. Os homens representam 60% das mortes por Covid-19 no mundo. No
Estado de São Paulo, o último boletim epidemiológico aponta que entre as
vítimas estão 16.836 homens e 12.358 mulheres.
Embora investigue
um grupo relativamente pequeno, na opinião do virologista Paulo Eduardo
Brandão, o estudo é importante ao apontar certo equilíbrio entre os sexos
diante da pandemia. “Os homens têm uma resposta imune menor, mas as mulheres
apresentam maior severidade de sintomas. O estudo é útil para nós pensarmos
como espécie e não apenas como indivíduos. Surge daí um equilíbrio entre os
sexos diante dos efeitos da doença”, avaliou.
Sistema imunológico
O desenvolvimento
de respostas imunológicas mais rápidas e mais fortes entre as mulheres no
combate ao coronavírus pode estar relacionado à proteção contra os patógenos
para a gestação. Por outro lado, um sistema imunológico em alerta constante
pode ser prejudicial. Muitas doenças autoimunes, caracterizadas por uma
resposta imunológica desproporcional, são mais prevalentes em mulheres.
A eficiência da
resposta feminina em relação à masculina prevalece mesmo em idades avançadas.
Quanto mais velhos os homens, mais fracas são as respostas das células T.
As conclusões da
pesquisa indicam que os homens, principalmente acima dos 60 anos, serão os mais
beneficiados quando a vacina for descoberta. Em termos práticos, empresas e
instituições que buscam o imunizante contra o coronavírus podem ter de
considerar os dados por sexo na definição da dosagem da vacina, por exemplo.
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