Eles são viajantes do Universo, atravessam nossos corpos.
"Dia e noite, a cada segundo, bilhões de
neutrinos passam por nós", diz o físico Juan de Dios Zornoza, professor da
Universidade de Valência (Espanha).
Os neutrinos estão entre as partículas mais
enigmáticas da Física.
Uma das razões para isso está no fato de que eles são
extremamente difíceis de se detectar. Assim, os cientistas têm de desenvolver
estratégias criativas para tentar "capturá-los".
Alguns chegaram a instalar instrumentos a mil metros
abaixo da superfície da Antártida e nas profundezas do mar Mediterrâneo, outros
colocaram antenas em um balão que sobrevoa o continente congelado.
"Assim como um astrônomo vai para uma montanha
com seu telescópio e observa as estrelas, queremos saber como o Universo
funciona. Mas, em vez de usar a luz, usamos outro mensageiro cósmico, que são
os neutrinos", explica Zornoza, coordenador do grupo espanhol ANTARES, que
busca neutrinos no Mediterrâneo.
Os neutrinos podem vir de outras galáxias, mas também
de estrelas mais próximas, como o nosso Sol.
"Eles nos dão informações sobre lugares
impossíveis de se acessar", disse à BBC News Mundo (serviço em espanhol da
BBC) o físico peruano Carlos Alberto Argüelles, pesquisador do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) e membro do IceCube,
projeto que busca neutrinos abaixo do gelo antártico.
O cientista explica que as as fusões nucleares no centro do Sol emitem
neutrinos. Assim, estudando essas partículas, seria possível saber o que está
acontecendo dentro do astro, por exemplo.
O
que a Ciência sabe sobre os neutrinos
Os neutrinos são partículas elementares, um dos blocos
fundamentais da natureza.
"Eles são a segunda partícula mais abundante do
Universo", explica Zornoza. "O que mais há no Universo são fótons,
isto é, partículas de luz. Em segundo lugar, vêm os neutrinos."
E essas partículas têm a especificidade de
dificilmente interagirem com o que encontram em seu caminho, passando
facilmente pela matéria.
"Das quatro forças que conhecemos — gravidade,
força eletromagnética, força nuclear forte e força nuclear fraca —, os neutrinos
só interagem com uma, a força nuclear fraca", aponta Argüelles.
E justamente por isso, diz Zornoza, os neutrinos
"são capazes de atravessar uma barreira de anos-luz de chumbo e chegar ao
outro lado, o que os torna muito difíceis de serem detectados".
Há muitas características dessa partícula ainda não
conhecidas.
"Os neutrinos são estranhos, sabemos que eles têm
uma massa, mas ainda não sabemos o quanto é ou como se origina. Possivelmente,
eles estão conectados a outra partícula que pode lhes dar uma massa secreta,
algo que esteja produzindo essa massa", diz Argüelles.
"Há também um fenômeno conhecido como oscilação
de neutrinos, porque existem vários tipos de neutrinos e eles podem se
transformar."
Eles
viajam em linha reta
Os neutrinos não têm carga elétrica e, portanto, são uma
ferramenta eficiente para o estudo do Universo.
"Como é uma partícula neutra, sem carga, é ideal
para a astronomia, porque ela não é desviada por campos magnéticos",
explica Juan Antonio Aguilar, pesquisador espanhol da Universidade Livre de
Bruxelas e chefe do grupo IceCube local.
"Isso significa que, se existe uma fonte no
Universo que emite neutrinos, esses neutrinos virão diretamente de lá para
nós".
Ao viajar em linha reta e interagir de forma fraca com a matéria, os neutrinos
revelam em qual direção está sua fonte, diferente de outros
"mensageiros", como os raios cósmicos ou raios gama.
"Os raios cósmicos, compostos principalmente de
prótons, viajam de fontes muito distantes de nós, mas, como eles têm carga
elétrica, se houver campos magnéticos, eles são desviados", detalha
Argüelles.
Os raios gama, por outro lado, são luz. E a luz pode
ser bloqueada ou obscurecida por nuvens de poeira ou gás.
"Então temos o neutrino, que, mesmo que haja
campos magnéticos, ele segue seu caminho; e mesmo que haja nuvens de poeira,
ele as atravessa. Por isso, eles são mensageiros diretos dos objetos de onde
vêm e nos fornecem informações verdadeiramente únicas", acrescenta.
"Sendo partículas quase 'fantasmas', que
atravessam tudo, elas podem nos trazer informações de lugares muito energéticos
e muito densos, como aqueles ao redor dos buracos negros."
Pesquisas no Polo Sul e no Mediterrâneo
Para capturar os esquivos neutrinos, cientistas usam táticas diferentes.
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