O deputado Samuel
Moreira (PSDB-SP), relator da reforma da Previdência, apresentou nesta quinta-feira
(13), na comissão especial da Câmara criada para analisar o assunto, o parecer
que flexibiliza a proposta enviada pelo governo Jair Bolsonaro.
O parlamentar tucano começou a ler o relatório às 12h59. Inicialmente, a
previsão era de que ele leria as 159 páginas do parecer. Porém, como a sessão
se estenderia até a noite se o documento fosse lido integralmente, o presidente
da comissão, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), propôs aos integrantes do
colegiado que Samuel fizesse a leitura apenas do voto, de cerca de 30 páginas.
Deputados aliados ao Palácio do Planalto e até da oposição aceitaram a
proposta, e o relator conseguiu concluir a leitura do documento às 15h36.
Ao final da apresentação do relatório, Marcelo Ramos concedeu a chamada
"vista coletiva" – prazo de duas sessões para que os integrantes da
comissão possam analisar o conteúdo do parecer.
As alterações propostas por Samuel Moreira no texto da
proposta de emenda à Constituição (PEC) da Previdência vão alterar a previsão
de economia calculada pelo governo federal. Com base nas propostas originais da
área econômica de Bolsonaro, a estimativa era de que a economia total pudesse
chegar a R$ 1,2 trilhão em dez anos.
O relator informou que, com as mudanças que fez no texto do governo, o
impacto fiscal da reforma da Previdência cairá para R$ 913,4 bilhões de
economia em uma década.
Para atingir os R$ 913,4 bilhões em 10 anos, Samuel Moreira está
sugerindo a inclusão na reforma previdenciária de um aumento na alíquota da
Contribuição Social Sobre Lucro Líquido (CSLL) dos bancos dos atuais 15% para
20%.
A intenção do tucano, segundo ele relatou a líderes do Centrão nesta
quarta-feira, é tentar recuperar parte da economia que será perdida na reforma
com a flexibilização de pontos da proposta do governo Bolsonaro.
A taxa de 20% vigorou entre 2016 e 2018, mas deixou de ser aplicada em
janeiro deste ano. Moreira argumenta que o fim da cobrança dessa alíquota
adicional deve gerar uma perda de receita de R$ 5 bilhões para o governo em
2019.
Segundo os cálculos do relator, o aumento teria "potencial
arrecadatório de aproximadamente R$ 50 bilhões, em valores atuais, nos próximos
10 anos".
Além disso, se a PEC vier a ser promulgada, o deputado tucano prevê uma
receita extra neste período de R$ 217 bilhões com o fim da transferência de
recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O FAT é um fundo destinado ao custeio do programa do seguro-desemprego,
do abono salarial e ao financiamento de programas de desenvolvimento econômico.
Se confirmada a receita extra, Samuel Moreira calcula que a proposta de
reforma da Previdência pode gerar, em 10 anos, uma economia de R$ 1,13 trilhão
aos cofres da União.
Por se tratar de uma mudança na Constituição, para ser aprovada no
plenário principal da Câmara, a reforma precisará de, pelo menos, 308 votos dos
513 deputados, em dois turnos de votação. Depois, a PEC terá que ser aprovada
em outras duas votações no Senado para que possa ser promulgada.
Mudanças que a PEC prevê
No relatório, Samuel Moreira mexeu em trechos da PEC enviada ao
Congresso Nacional em fevereiro por Bolsonaro.
A flexibilização de pontos da PEC se deu para garantir votos do Centrão
e, com isso, viabilizar a aprovação do relatório na comissão especial criada na
Câmara exclusivamente para analisar a proposta.
Veja as principais mudanças que o relator fez no texto da PEC:
-Retirada de estados e municípios da PEC
da Previdência. Com isso, se esse
ponto não for reinserido durante a tramitação da emenda constitucional, as
eventuais alterações nas regras previdenciárias que vierem a ser aprovadas
pelos congressistas não terão efeito sobre os regimes de aposentadoria de
servidores estaduais e municipais. O relator destacou que os legislativos de
cada ente federativo terão que aprovar regras próprias por meio de lei
complementar;
-Exclusão das mudanças propostas
pelo governo na concessão da aposentadoria rural;
-Retirada das alterações sugeridas
pelo governo na concessão do Benefício de Prestação
Continuada (BPC), uma ajuda paga pelo Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) a idosos e deficientes físicos de baixa renda;
Fim da chamada "desconstitucionalização da Previdência", que
permitiria alterações nas regras por projeto de lei, sem necessidade de PECs;
-Na versão original da PEC, havia
sido sugerida a definição de uma idade mínima de
60 anos para professores, tanto do setor público quanto do privado, se
aposentarem, independentemente do gênero. O relator alterou o texto original,
criando uma diferenciação do tempo mínimo de serviço para mulheres. Samuel
Moreira defende a redução da idade mínima para 57 anos para professoras se
aposentarem;
-Exclusão do regime de capitalização da PEC da Previdência. A
capitalização é uma espécie de poupança que o trabalhador faz para garantir a
aposentadoria no futuro, na qual o dinheiro é investido individualmente, ou
seja, não 'se mistura' com o dos demais trabalhadores. O modelo atual é o de
repartição, no qual quem contribui paga os benefícios de quem já está
aposentado. A ideia da equipe econômica de Bolsonaro era de que a capitalização
substituísse gradualmente o atual sistema. No entanto, a proposta foi alvo de
duras críticas de partidos da oposição e, até mesmo, de centro. Um acordo entre
líderes partidários assegurou a retirada deste item da PEC da Previdência.
Porém, há a expectativa de que essa proposta seja reapresentada no segundo
semestre em uma PEC separada. O objetivo é não inviabilizar a tramitação da
proposta atual.
Acordo para leitura
Antes de Samuel Moreira iniciar a apresentação do relatório, o
presidente da comissão especial, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), informou aos
deputados que havia sido fechado um acordo com a oposição a fim de se evitar
tentativas de obstrução (uso de dispositivos regimentais para tentar atrasar a
tramitação da sessão) na leitura do parecer.
Em contrapartida, comunicou Ramos, o relator e os integrantes da base
aliada do governo Bolsonaro se comprometeram a não impor uma data para a
votação do relatório – oposicionistas não aceitaram o agendamento da votação para o dia 25, como chegou a ser
sinalizado inicialmente nesta quarta (12) pelo presidente da Câmara.
A oposição cobrou a realização de sessões exclusivas para debater o
texto de Samuel Moreira antes que seja colocado em votação no colegiado.
Assim que o presidente da comissão anunciou o acordo, a deputada Gleisi
Hoffmann (PT-PR) pediu a palavra para dizer que a bancada petista não teria
participado das negociações.
A parlamentar afirmou que o PT discordava da apresentação do parecer
nesta quinta-feira e pediu o adiamento da leitura do texto. O pedido de Gleisi,
entretanto, foi negado pelo presidente da comissão.
Bate-boca
Antes da leitura do relatório, houve uma discussão acalorada entre dois
deputados. O bate-boca ocorreu enquanto o deputado Henrique Fontana (PT-RS)
criticava a proposta de reforma da Previdência.
Antes de Fontana falar, o líder do Novo na Câmara e aliado de Bolsonaro,
Marcel Van Hattem (RS), ironizou, em tom de provocação, dizendo que o líder do
PSOL, Ivan Valente (SP), deveria abrir mão do regime especial de aposentadoria
dos deputados federais, mais vantajoso do que o regime geral de aposentadoria
do INSS.
Segundo relatos de deputados, após sua fala, Van Hattem se levantou e
foi até Ivan Valente. Seguiu-se então um bate-boca entre os dois, fora dos
microfones.
Ivan Valente ficou irritado com a pergunta e chamou o parlamentar do Novo de "moleque safado" e Van Hattem respondeu com "mentiroso". O bate-boca foi apartado pelos deputados que estavam no plenário da comissão.
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