A pandemia causada pelo novo coronavírus levou o setor
da saúde a buscar soluções para evitar a contaminação. Uma das saídas
encontradas foi o uso da tecnologia que, além de proteger as pessoas, pode
ampliar a oferta de serviços e reduzir custos.
É o que defende uma equipe de pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) que desenvolve um sistema de teleatendimento para a rede pública de saúde.
O professor Douglas Dyllon Jeronimo de Macedo, do Departamento de Ciência da Informação da UFSC e coordenador do projeto, acredita que a proposta pode melhorar significativamente os níveis de saúde dos pacientes, além de dar mais agilidade no atendimento.
“Imagine pessoas
que estão em condição enferma em casa, doentes tendo que sair de casa, muitas
vezes tendo que pegar conduções públicas. Nesse momento nem está tendo condução
para chegar de fato ao local que está dando assistência à saúde. Imagine
conseguir fazer a consulta de casa”, explica o professor.
Segundo o governo
do Estado, a previsão é que a plataforma seja finalizada até novembro deste
ano, na metade do prazo original. O projeto-piloto deve ficar pronto ainda este
mês, quando passará por melhorias. Já em outubro serão feitas as validações
para entregar ao Estado. Todos os municípios catarinenses poderão contar com o
sistema.
Santa Catarina já é
destaque no país no desenvolvimento de tecnologias para a saúde, mas não havia
um sistema semelhante porque a legislação não permitia. Até então os gestores
públicos não imaginavam uma crise mundial sanitária e a necessidade de
atendimento remoto.
A pandemia causada
pelo novo coronavírus veio mudar esse cenário. Um projeto de lei federal já foi
aprovado e sancionado, permitindo as consultas a distância durante o período da
pandemia, cenário que poderá ser mantido com regulamentação específica.
O professor Macedo
reforça que o sistema de teleatendimento desenvolvido na UFSC não é só uma
videoconferência como se tem visto no mercado. Há um rigoroso trabalho para
garantir a privacidade dos profissionais de saúde e dos pacientes, além da
geração de dados para abastecer os prontuários eletrônicos e garantir acesso às
informações durante o tratamento.
“Há toda uma tarefa
de gestão até esse paciente chegar numa sala virtual em que o médico esteja
esperando ele”, destaca Macedo.
Essa gestão inclui
a criação de um fluxo para que a pessoa receba a informação sobre a consulta,
saiba como acessar a sala virtual e tenha todo o atendimento necessário, o que
não exclui a consulta presencial. Pelo contrário, o sistema de teleatendimento
será um complemento ao serviço já disponível, ampliando as ferramentas de
acompanhamento do paciente.
O projeto do
professor Douglas se propõe a pensar tudo isso de forma segura, dentro dos
procedimentos adotados pelo Ministério da Saúde e na realidade da saúde pública
catarinense e do país. Mas para que o sistema faça parte do dia a dia dos
profissionais e dos pacientes, vai passar por validações técnicas além de
aprovação dos governos, que serão os responsáveis pela gestão da plataforma.
“Nosso projeto é
completamente focado na rede pública. Quem vai avaliar essa viabilidade e de
fato fazer a oferta são o Estado e os municípios”, defende o coordenador da
iniciativa.
O projeto foi
apoiado pela Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa
Catarina), que destinou R$ 97 mil para o grupo de pesquisa.
Telemedicina já desenvolvida no Estado
Não é a primeira
vez que a tecnologia é uma aliada da rede de saúde em Santa Catarina. O Estado
já conta com um robusto sistema de telediagnóstico presente em todos os 295
municípios catarinenses, que conta com 650 instituições de saúde conectadas.
A rede começou a
ser desenvolvida em 2004 para reduzir o transporte de pacientes dos pequenos
municípios para as grandes cidades para fazer desde exames simples até os mais
complexos. Com essa integração foi possível realizar 9,5 milhões de exames
desde 2005.
Segundo o
coordenador do STT (Sistema de Telemedicina e Telessaúde) da UFSC, o professor
Aldo von Wangenheim, só foi possível desenvolver essa rede tecnológica pela
parceria da universidade com o Governo do Estado.
“Hoje o STT é
provavelmente a maior rede de telemedicina que existe no hemisfério sul. Nós
realizamos em média 80 mil exames por mês. São 80 mil pacientes que deixam de
pegar a estrada para fazer um exame, para serem atendidos, para ter um
resultado. Isso é uma revolução na saúde do Estado”, destaca o coordenador do
STT.
Além da parceria
com a Secretaria Estadual da Saúde, o projeto contou com apoio da Fapesc para
desenvolvimento de pontos específicos da plataforma. Um exemplo foi a
teledermatologia, que permitiu a realização a distância de exames
dermatológicos. Essa parte do projeto foi aprovada no PPSUS (Programa Pesquisa
para o SUS), também da fundação e que está agora com inscrições abertas até 5
de outubro.
Já em operação, o
serviço de teledermatologia está disponível em 300 pontos espalhados por todo o
Estado, o que colaborou para reduzir o tempo de espera de exame dermatológicos
de seis meses para 72 horas. “Com isso, uma quantidade enorme de filas de
pessoas que estavam esperando pelo atendimento médico se eliminou. É impensável
hoje você imaginar o Estado de Santa Catarina sem a telemedicina”, confirma o
professor Aldo.
Segundo o
presidente da Fapesc, Fábio Zabot Holthausen, o uso da tecnologia, da ciência e
da inovação sempre fez parte das ações relacionadas à saúde, desde os
equipamentos para exames até estruturas para realização de cirurgias, por
exemplo.
“O teleatendimento
é mais uma aplicação da tecnologia na área da saúde, onde o profissional
especializado numa das áreas da medicina pode atender diversos casos em várias
regiões, reduzindo tempo e custo. A Fapesc é apoiadora de estudos ligados à
telemedicina desde seus primeiros projetos no Estado de Santa Catarina e
continuaremos na vanguarda”, reforça Holthausen.
Já a gerente de
Ciência e Pesquisa da Fapesc, Deborah Bernett, destaca o quanto o projeto do
STT é um exemplo de sucesso em pesquisa com resultados aplicados diretamente na
sociedade. “O projeto está subdividido em diferentes etapas e metas que se
estendem a atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em tecnologias
móveis distribuídas na área da saúde, todas apoiadas pela fundação em programas
de apoio específicos” comenta.
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