Cerca de 890
toneladas de plásticos são despejadas no mar brasileiro por dia. A poluição
marinha por plásticos é um grave problema global, que tem efeito sobre os
ecossistemas marinhos, o clima, a qualidade de vida da população e as
atividades econômicas que dependem do mar.
Um estudo da
organização não governamental e sem fins lucrativos, Oceana, mostra que o
Brasil, maior produtor de plástico na América Latina, é responsável por pelo
menos 325 mil toneladas desses resíduos no oceano, que são levados a partir de
fontes terrestres tais como lixões a céu aberto e descartes inadequados a cada
ano.
Os dados fazem
parte do relatório “Um oceano livre de plástico – desafios para reduzir a
poluição marinha no Brasil”. De acordo com a pesquisa, a maior parte desse lixo
marinho é composta por produtos e embalagens plásticas descartáveis e, em
geral, esses itens são feitos para consumo e descarte imediato, gerando grande
quantidade de resíduos não biodegradáveis.
“O estudo da Oceana
mostra que 325 mil toneladas de plástico chegam ao mar todo ano e a maioria
disso é plástico descartável, isso traz consequências tanto para a vida marinha
quanto para a vida das pessoas”, explicou a cientista marinha Lara Iwanicki,
uma das responsáveis pelo relatório.
A indústria
brasileira produz anualmente cerca de 500 bilhões de itens plásticos
descartáveis tais como copos, talheres, sacolas plásticas, e embalagens para as
mais diversas aplicações. São 15 mil itens por segundo. A maior parte
acumula-se em aterros, lixões, mas uma parcela muito importante vai para o meio
ambiente.
Parte desse volume
de lixo tem sido ingerido também por animais marinhos, que morrem contaminados.
Outra parte acaba convertida em pequenos fragmentos, microplásticos que poluem
as águas e acabam sendo ingeridos pelos pescados e assim pela população.
Em apenas 24 horas,
bilhões de itens de plástico escorrem pelos esgotos, ou são levados pelas
chuvas e acessam os rios, até invadirem o litoral. São embalagens abandonadas
em lixões, materiais deixados sobre as areias das praias que acabam nas águas
do Atlântico.
Uma prova da
chegada desses poluentes na costa é o estudo que mostra que 70% dos materiais e
fragmentos coletados em limpezas de praia no litoral brasileiro são de
plásticos, principalmente embalagens.
Diante desse
cenário, a Oceana propõe a criação de uma Lei nacional para reduzir a oferta e
uso de plástico descartável, visando reduzir a geração de resíduos evitáveis,
problemáticos e desnecessários de plástico, seguindo o exemplo de mais de 40
países no mundo.
“Para impedir que o
plástico continue entrando no nosso oceano a gente precisa reduzir a quantidade
de plástico descartável que está sendo colocado no mercado. A Oceana defende
que precisamos de uma lei nacional regulamentando o uso do plástico descartável
e que as empresas também se responsabilizem, as empresas precisam oferecer para
os seus consumidores alternativas, opções de embalagens e de produtos que não
sejam plástico, para que o consumidor também consiga fazer uma escolha
consciente”, declarou Iwanicki.
Ativismo
Atuando há 8 anos
com mutirões de limpeza de praia, o Instituto Mar Azul (IMA) surgiu através da
insatisfação com as condições ambientais das praias, oceanos e ecossistemas,
representantes da sociedade civil. Segundo o diretor-presidente do instituto,
Hailton Santos, a mobilização em defesa da criação de políticas públicas
relacionadas à balneabilidade das praias e à preservação da vida marinha tem
como principal bandeira o esforço conjunto da sociedade civil organizada.
“Em meados de 2012
um dos nossos fundadores contraiu uma infecção ao surfar na praia do boqueirão
em Santos, em São Paulo. Quando nós soubemos que ele havia ficado doente
ficamos muito indignados e aí nos demos conta da quantidade e variedade de
resíduos existentes na praia e decidimos fazer alguma coisa”, contou Santos.
Definindo o
plástico como um material onipresente, o ativista ambiental Alex Trevelin usou
da mobilização nas redes sociais para tomar uma atitude que pudesse mudar a
realidade das praias ao seu redor, criando então o Projeto ECOlibri.
“Claro que pra
gente resolver um problema como esse, o que eu encaro também como uma
prioridade é a mudança de hábito, é importante que sejamos ecoconscientes e
saibamos promover a auto observação, pois através dessas iniciativas
individuais que possibilitam acontecer as mudanças, mas é claro que políticas
públicas, por exemplo planos de gerenciamento de resíduos sólidos, como o
próprio nome sugere, eles precisam ser revisados e exigidos pelas secretarias
municipais”, avaliou.
Municípios
Para a cientista
marinha Lara Iwanicki, atitudes simples podem fazer a diferença, como a recusa
do plástico descartável sempre que for possível. Ela afirmou ainda que é
possível contribuir para diminuir esse número descartado no mar mesmo em
municípios distantes do litoral, e que a atuação dos gestores municipais têm
papel fundamental.
“O plástico que
chega no mar também vem do lixo que cai nos rios nas cidades do interior, os
prefeitos não só tem o papel importantíssimo na resolução desse problema, como
também uma ótima oportunidade com o início do mandato de 2021, que é a
prevalência de reduzir o uso do plástico descartável”, disse Iwanicki.
Para tentar reduzir
a poluição ambiental, a maior cidade do País, com 12,2 milhões de habitantes,
São Paulo proibiu o fornecimento de copos, pratos, talheres, agitadores para
bebidas e varas para balões descartáveis feitos de material plástico aos
clientes de hotéis, restaurantes, bares e padarias, entre outros
estabelecimentos comerciais.
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