Apesar de ainda não haver tratamento com evidências
científicas para coronavírus, o elevado número de casos, somado a superlotação
em leitos de hospitais, levou médicos e pesquisadores a desenvolverem
tratamentos experimentais que podem ajudar pacientes infectados. Um exemplo é o
uso de corticoide, substância que costuma ser usada em remédios
anti-inflamatórios.
O método é utilizado pelo médico pneumologista Rodrigo Santiago, de São
Paulo. Ele afirma que esse procedimento deve ser adotado quando o paciente já
começa a apresentar sintomas respiratórios que precisam de maior atenção.
“Quando começa a aparecer sintoma respiratório mais importante, como tosse,
falta de ar ou mesmo alteração tomográfica, temos que pensar que chegou na fase
da inflamação”, explica.
“O corticoide oral, nessa fase inflamatória, é muito útil. E, muitas
vezes, desde o H1N1, sabemos que em pneumonia viral temos, em segundo lugar,
uma pneumonia bacteriana. Ou seja, o vírus predispõe à infecção bacteriana, o
que acaba em termos a necessidade de entramos com antibiótico”, indica
Santiago.
O pneumologista deixa claro que é preciso ter cautela para que o
tratamento não seja visto como uma “solução mágica” e reforça que o uso de
determinado medicamento não é aconselhado para todos os pacientes. “Não dá para
falar que é um tratamento contra o coronavírus, porque para isso ainda não
temos evidência científica. É por isso que eu gosto de falar que não estou
tratando coronavírus, estou tratando o que ele causou. Se ele causou
inflamação, eu vou melhorar a inflamação que ele causou. Se ele evoluiu para
uma infecção bacteriana na secundária, eu vou entrar com uma antibiótico para
isso”, pontua.
No município de Campestre, interior do Maranhão, a jovem Giovanna
Rodrigues Macedo, de 25 anos, alega que se curou dos sintomas da covid-19
graças ao tratamento à base de corticoide. Ela trabalha como enfermeira em
Imperatriz, onde acredita ter contraído a doença.
“Minha saturação estava oscilando muito, entre 90 e 93. Tive que ir para o
oxigênio. Quatro dias depois tive alta. Fui para casa ainda com receita médica,
porque ainda sentia dores nas costas, tendo que voltar ao hospital após uma
semana. Retornei ao hospital para fazer novos exames. Deu tudo certo graças a
Deus e, no dia seguinte, pude voltar a trabalhar”, relata Giovanna.
Se no caso de Giovanna o método pode ter dado certo, o pneumologista
Rodrigo Santiago faz um apelo e pede para que nenhuma pessoa tome remédio por
conta própria e sempre procure um especialista para saber os riscos e possíveis
efeitos colaterais. Isso significa que se você ou algum parente ou amigo tem
sintomas de covid, tomar medicações com corticoide não é uma garantia de que o
quadro de saúde vai melhorar.
“Protocolo
de Madri”
No Brasil, outro exemplo de tratamento experimental utilizado por algumas
prefeituras é o chamado “Protocolo de Madri”. A terapia consiste,
principalmente, na associação dos medicamentos hidroxicloroquina, azitromicina,
ivermectina ou albendazol, na primeira fase da doença, e da injeção de
corticoides, na segunda.
O pneumologista Rodrigo Santiago diz que respeita e vê boas intenções nos
médico que utilizam esse tipo de tratamento, mas que não é adepto a ele.
Segundo ele, nesse caso, como haveria uma necessidade de o paciente ser
atendido nos primeiros dias de sintomas, poderia haver comprometimento da
possível eficácia do método, já que nem todos os pacientes procuram atendimento
logo nos três primeiros dias. “É um tratamento precoce que teria o intuito de
atacar a fase de replicação viral conforme a teoria explica”, contextualiza.
“Para esse protocolo, é preconizado o uso nos dois ou três primeiros dias
de hidroxicloroquina, além das outras medicações. Mas, na prática, é muito
complicado porque, dificilmente, o paciente vai ao médico no primeiro ou
segundo dia de sintoma respiratório. Até o paciente procurar o serviço médico
já se passaram de cinco a sete dias do início dos sintomas, período em que há
evidências científicas de que não há comprovação de benefício desse tipo de
medicação”, enfatiza o especialista.
Por outro lado, o gerente de assistência e qualidade do Instituto Saúde e
Cidadania (ISAC) de
Araguaína (TO), Vinicius Menezes, garante que o “Protocolo de Madri” tem dado
resultado no atendimento a pacientes infectados pelo novo coronavírus.
“Pela nossa análise mais crua, ainda não científica, o que percebemos de
dados mais consistentes até agora é que o grupo que utiliza o tratamento
precoce tem 4,5 vezes menos chance de internação e oito vezes menos chance de
morte do que o grupo que não faz o tratamento precoce”, estima.
“Ao contrário do que se tinha antes, ‘se tiver sintoma fique em casa,
espera e, quando estiver muito ruim, vai para o hospital, faz uso de tubo,
ventilador e vamos ver no que dá’, esse protocolo resolveu fazer o tratamento de
acordo com as fases. Deve-se buscar precocemente o atendimento, identificar o
perfil e duração da doença. Ainda nessa primeira fase, nós fazemos um
tratamento baseado em algumas drogas com efeito antiviral, em que percebemos
bons resultados”, atesta Menezes.
Até o momento, cerca 200 pacientes se submeteram a esse tipo de tratamento
em Araguaína. Desse total, apenas um morreu e oito foram internados. Segundo
Vinicius Menezes, todos os pacientes passam por uma avaliação prévia para saber
se têm condições de se submeterem ao tratamento, além de ser exigida a
assinatura de um termo de responsabilidade.
Benedito Ribeiro Júnior, de 42 anos, foi um dos moradores de Araguaína que
contraiu covid-19 e conta que durante o tratamento fez uso de
hidroxicloroquina, assim como a utilização de outros medicamentos receitados
pelos médicos. Apesar de alegar que ainda sente resquícios dos sintomas, o
vendedor autônomo vê uma melhora aparente em seu quadro clínico.
“O tratamento foi de fundamental ajuda para mim. Eu recebi todo auxílio
dos médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e fisioterapeutas. Na
verdade, salvaram a minha vida. Todos os procedimentos foram importantíssimos
para a minha recuperação”, reconhece.
No Brasil, o tratamento previsto no “Protocolo de Madri” começou a ser
utilizado em pacientes infectados no Hospital Regional Tibério Nunes, na cidade
de Floriano (PI).
O diretor da unidade, Justino Moreira, salienta que método passou a ser
aplicado após a apresentação de resultados positivos em pacientes. Segundo
Moreira, até o momento nenhum paciente sofreu com efeitos adversos por causa da
medicação.
“São somados apenas cinco dias de medicação. Poderia ocorrer uma
maculopatia (degeneração da parte central da retina responsável pela visão de
detalhes) após pelo menos 30 ou 60 dias de medicação. Como são por cinco dias,
não tivemos nenhum efeito colateral perceptível”, sustenta Justino Moreira.
O tratamento oferecido no Hospital Regional Tibério Nunes foi trazido por
uma médica brasileira que atualmente trabalha no Hospital HM
Puerta Del Sur, em Madrid, na Espanha. O protocolo utilizado chamou a atenção
da ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que foi à
cidade piauiense conferir o trabalho desenvolvido. Segundo a ministra, o
tratamento será ampliado a outros municípios brasileiros.
O uso da hidroxicloroquina, associada ou não a outros medicamentos, é tema
controverso entre as autoridades da área da saúde. Ainda não existe um estudo
científico que comprove ou não a eficácia do remédio no combate à covid-19. No
Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Ministério
da Saúde indicaram o uso da cloroquina e hidroxicloroquina em
pacientes com o coronavírus a critério médico e com o consentimento dos
pacientes em tratamento.
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