Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O Conselho Nacional
de Política Fazendária (Confaz) vai congelar o valor do ICMS cobrado sobre os
combustíveis por 90 dias. A decisão foi aprovada, por unanimidade, pelo
colegiado, na manhã desta sexta-feira (29), e tem o objetivo de contribuir com
a manutenção dos preços da gasolina, do etanol e do diesel durante o período
que vai de 1º de novembro até 31 de janeiro de 2022.
Na última
segunda-feira (25), a Petrobras anunciou reajuste de R$ 0,21 por litro no preço
médio de venda da gasolina para as distribuidoras. De acordo com a Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio da
gasolina na última semana chegou a R$ 6,36. A ANP também registrou postos em
que o valor da gasolina alcançou os R$ 7,46.
Na prática, a
medida significa que, mesmo se o valor dos combustíveis nas refinarias
continuar subindo, a parcela de impostos cobrada pelos estados vai se manter no
mesmo valor, em vez de aumentar proporcionalmente à alíquota do ICMS. O Rio de
Janeiro, por exemplo, cobra 34% de ICMS sobre a gasolina, a maior alíquota do
país. Com a decisão do Confaz, não importa se o preço do litro do combustível
chegar a R$ 8, R$ 9 ou R$ 10, no estado fluminense o valor de ICMS que compõem
o preço final aos consumidores vai permanecer inalterado. De acordo com a
Fecombustíveis, a parcela de ICMS no valor da gasolina no estado na última
semana correspondia a R$ 2,27.
Para o economista
Benito Salomão, a iniciativa é insuficiente para solucionar o problema.
“Congelar por 90 dias vai ser um paliativo. Isso não resolve. A causa da
flutuação do preço dos combustíveis é a flutuação cambial e o aumento
internacional do preço do petróleo."
O presidente da
Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), afirmou que “quando governadores concordam
em congelar o ICMS dos combustíveis para diminuir a pressão na bomba e pedem
que a Petrobras entre no debate sobre os preços, tenho certeza de que crise é
oportunidade de união e de compromisso público de todos nós”.
Lira é um dos
entusiastas do projeto de lei que muda o cálculo da alíquota de ICMS incidente
sobre os combustíveis, já aprovado na Casa e que agora está no Senado. O
presidente da Câmara já declarou algumas vezes que o cálculo do imposto é o
“vilão da história”.
Por meio de uma
rede social, o secretário de Fazenda do Estado de São Paulo, Henrique
Meirelles, disse que o congelamento do ICMS não é suficiente para conter o
aumento dos preços. “É essencial que todos os outros atores que influenciam a
composição desse preço — Petrobras, governo federal, postos de gasolina — façam
sua parte”.
Composição do preço
A gasolina acumula
alta de quase 40% em 12 meses, de acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). O etanol, 64,77%. Para Pierre Souza, professor
de finanças públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), a política adotada pela
Petrobras desde o governo do ex-presidente Michel Temer é correta, apesar de
acabar influenciando a alta nos preços aos consumidores. No entanto,
responsabilizar a empresa, unicamente, está errado, na visão do especialista.
O preço dos
combustíveis na refinaria influencia o valor final na bomba do posto, pois
impostos federais e estaduais são cobrados de forma proporcional: quanto maior
esse valor, mais altos serão os valores pagos em tributos. O mais alto desses
impostos é o ICMS, cobrado pelos governos estaduais e o Distrito Federal. O
valor varia de uma unidade da federação para outra. Boa parte da arrecadação de
impostos de ICMS vem justamente dos combustíveis.
A alíquota do
tributo se mantém a mesma, mas o que ocorre no modelo atual de cálculo do ICMS
é que, quando o petróleo fica mais caro e o preço dos combustíveis nas
refinarias sobe, as receitas dos estados com o imposto aumentam
automaticamente. Assim, as unidades da federação recebem um montante maior na
arrecadação total sobre os combustíveis.
“É inegável que a
arrecadação com o ICMS, quando o preço da gasolina está explodindo, também sobe
bastante, e não teria um sentido econômico razoável para aumentar a arrecadação
nesse momento. No final das contas, não é um enriquecimento ilícito dos
estados, porque é a alíquota que está lá e a regra que está em jogo, mas também
não faz muito sentido ter um aumento de arrecadação tão expressivo”, avalia
Pierre Souza.
Mudança no cálculo
Especialistas
acreditam que o projeto de lei (PLC 11/2020) que muda o cálculo do ICMS sobre os
combustíveis tende a diminuir o preço da gasolina a curto prazo. O texto
aprovado na Câmara estabelece que o ICMS cobrado sobre a gasolina, o álcool e o
diesel será fixado e vigorará anualmente.
O valor do imposto
por litro será calculado com base no preço médio do combustível nos dois anos
anteriores. Por exemplo: se o PL se tornar lei e entrar em vigor ainda em 2021,
o ICMS cobrado sobre a gasolina deverá considerar o preço médio do produto
entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020, que ficou entre R$ 4,26 e R$
4,48.
Atualmente, o ICMS
tem como base o preço médio da gasolina, do álcool e do diesel nos quinze dias
anteriores. Assim, a alíquota do imposto estadual está mais sujeita às
variações do preço praticado no mercado internacional. De acordo com a Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o valor médio da
gasolina em outubro é de R$ 6,22.
De acordo com o
deputado Dr. Jaziel (PL/CE), relator do projeto na Câmara, as mudanças na
legislação podem reduzir em 8% o preço médio da gasolina na bomba, 7% no caso
do etanol e 3,7% para o diesel. Com base no valor da gasolina em outubro,
seriam R$ 0,49 de economia.
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